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Nesta semana que passou houve duas tragédias, no sentido popular do termo: o horrendo assassinato de dezenas de pessoas, inclusive crianças, na Noruega, e a triste morte da cantora Amy Winehouse.O que mais me chamou a atenção foi o contraste absoluto entre os assassinos, entre o norueguês apolíneo que mata crianças e a inglesa dionisíaca que mata a si mesma.

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Apolo, deus do Sol, simbolizava a ordem, a razão, a clareza, mas as flechas de seu arco causavam a peste. Dionísio, deus do vinho, simbolizava a embriaguez, a entrega aos prazeres da vida, os excessos. Sob o nome de Baco, era celebrado pelos romanos nas bacanais.

E é isso que tivemos, em versão desordenada: de um lado um louco apolíneo, disparando a morte em nome de uma ordem que só ele consegue ver, destruindo, matando, semeando cadáveres em uma sociedade que se acreditava pacífica. Do outro, uma mulher de enorme talento, entregando-se de forma tão desordenada ao que para ela seria uma busca de vida, que acabou por encontrar a morte. A vida desordenada e entregue aos mais loucos excessos da Dionísio inglesa desemboca na morte, exatamente como a falsa ordem do Apolo norueguês semeia a desordem mais completa e a morte mais insensata.

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Dois excessos, dois erros fatais, vindos de direções opostas e desembocando juntos em gélidas sepulturas. Duas leituras alucinadas de uma mesma realidade, em que o amor dos jovens casais que passeiam de mãos dadas vale menos que os sonhos da falsa ordem do norueguês ou os prazeres delirantes das drogas da inglesa. Em que a vida – que deveria ser buscada por ambos, que deveria ser ordenada, não apagada, pelo apolíneo e aproveitada, não consumida, pela dionisíaca – perde totalmente o seu valor.

São casos extremos, aparentemente contrastantes, mas que têm na sua base a mesma desordem, a mesma falta de percepção do Bem naquilo que nos cerca. Ambos procuraram, cada um a seu modo, mas ambos desordenadamente, um sentido no mundo, que não conseguiram perceber. O apolíneo buscou construí-lo assassinando os outros, e a dionisíaca assassinando, lentamente, a si mesma.

Para ambos, o mundo era insuportável; um o trucida, a outra se esconde dele. Para ambos, o mundo era caótico: um tenta ordená-lo derramando sangue inocente, a outra transforma o caos em delícia com o falso auxílio da droga.

Melhor seria se conseguissem – e nós, ao contrário deles e de suas vítimas, ainda podemos tentar – perceber e celebrar a ordem existente, a beleza do mundo, belo por ser expressão ordenada do Bem.

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