Já é a segunda semana seguida em que fica para depois o texto já escrito. Pede-me o editor, com toda a razão, que eu aborde isso ou aquilo. Isto aqui, afinal, é um jornal; novidades e assuntos do momento são o que um jornal difunde. Notícia é o homem que mordeu o cachorro, não o bebê que nasceu saudável ou o casal apaixonado que anda de mãos dadas.

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Quando a isso se soma o fato curioso de que, no Brasil, a absolutíssima maioria dos jornalistas pertence a um grupo cujas opiniões e interesses são radicalmente diferentes dos do resto da sociedade, a coisa fica ainda mais interessante. Entre os jornalistas brasileiros é estatisticamente mais provável que entre a população como um todo o ateísmo, o uso de drogas recreativas, a adesão ideológica a partidos – ou ao menos a opiniões – de extrema-esquerda, o apoio a determinadas "bandeiras" da revolução (aborto e equiparação das relações sexuadas entre pessoas do mesmo sexo ao matrimônio, entre outros) etc.

Isso faz com que, para o grosso dos jornalistas, tratar da Igreja Católica seja ainda mais difícil que tratar da Coreia do Norte. A Igreja é um absoluto desconhecido para eles, mas – só para piorar as coisas – eles acham que a conhecem, definindo-a por suas diferenças visíveis em relação a "causas" da moda. Assim, para eles, a Igreja é basicamente uma organização de gente esquisita, dedicada a propagar o que chamam de homofobia, combater o aborto e impor seus "dogmas". O que é um dogma, eles não sabem; só sabem que soa bem malvado.

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Ora, a Igreja é o oposto disso. Na verdade, a Igreja é o oposto do jornalismo: seu papel é pregar uma Boa-Nova de 2 mil anos, é levar o temporal para o eterno. As novidades, para a Igreja, são na melhor das hipóteses irrelevantes; afinal, a Novidade absoluta – razão de ser da Igreja – é a entrada do Eterno no tempo, para nos dar a eternidade.

Para os jornalistas, contudo, a Igreja só pode ser notícia na medida em que haja novidades. Se elas não existem – e não têm como existir –, é mister fabricá-las. E eis que o papa teria "liberado" isso ou aquilo (até hoje há quem acredite que Bento XVI "liberou a camisinha para os prostitutos"!), ou estaria prestes a "aceitar" sabe-se lá que outro erro atual. Ora, os erros que são vendidos como verdade numa dada época – como hoje a aceitabilidade moral do aborto, da sodomia, do igualitarismo etc. – em outra terão dado lugar a outros. Pensemos que, 80 anos atrás, o racismo era a vanguarda da ciência. Hoje, graças a Deus, a sociedade voltou a dar razão à Igreja contra ele.

Um adendo: vale lembrar que o texto acima trata das características mais gerais de uma categoria imensa. Ignorar o eterno em prol do passageiro, que é para alguns motivo de orgulho, para outros é tentação a combater. A equipe de Mundo da Gazeta do Povo, graças a Deus, está neste segundo grupo. O caderno sobre o papa emérito Bento XVI, por exemplo, foi uma aula de cobertura da Igreja. Do mesmo modo, as interpretações hipercriativas do que disse o Papa Francisco, que pulularam por toda parte, não encontraram abrigo neste jornal. Palmas a quem é de direito.