| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

A hegemonia total da esquerda na política brasileira, publicamente celebrada uma vez pelo próprio Lula, está chegando a seu fim natural. A eleição presidencial de 2018 promete ter candidatos que saem um pouco do padrão da esquerda.

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O mais evidente deles é Bolsonaro, fenômeno das redes sociais que já conseguiu eleger os filhos apenas com a força do seu nome. Não se sabe ainda se ele poderá concorrer, pois é atualmente réu no STF de um processo absurdo, movido para incomodá-lo apenas. Se concorrer, é provável que aconteça com ele o mesmo que aconteceu com Trump, e seja fortalecido pelos ataques da imprensa, ainda predominantemente de esquerda. Quanto mais falam dele, mais ele aparece, e é com isso que ele conta. Em um sistema honesto, ele teria forte chance de ganhar, ou pelo menos de chegar perto, trazendo ao Brasil a moda do populismo de direita que vem varrendo o mundo. Nosso sistema, todavia, não é honesto nem quer sê-lo, com tempo de tevê proporcional ao poder que já se detém e outras injustiças flagrantes.

Quanto mais falam dele, mais ele aparece, e é com isso que ele conta

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Bolsonaro está colhendo agora os frutos de uma carreira política típica de sistema parlamentar, representando grupos pequenos e causas impopulares para a imprensa. Era, como eu já escrevi aqui, uma espécie de bobo da corte, autorizado a dizer verdades ao rei em meio a piadas porque ninguém o leva mesmo a sério. Sem ter cursado escola de Estado-Maior, o capitão da reserva parece estar em seu ambiente no parlamento, onde suas provocações atingem os alvos e seus atos não têm grandes consequências.

Outra seria a situação no Planalto, mais ainda pelas peculiaridades da trama político-burocrática brasileira que torna impossível a um presidente governar sem distribuir fartas fatias de bolo do erário para assegurar o apoio de parlamentares. Pelo próprio papel que sempre desempenhou, de derradeiro paladino incorruptível, militar sério que vive do soldo e nada mais, Bolsonaro nunca aprendeu a participar desses toma-lá-dá-cá quase obscenos, e por isso teria sérias dificuldades para governar.

Ele depende de vitrine; seu discurso amolda-se no mais das vezes ao conservadorismo tradicional de nossa população, mas é quando ele se confronta com algo que desperta indignação na multidão que ele se levanta. Foi o caso do “kit gay” escolar que denunciou; sua firme posição valeu-lhe defensores entre gente que nunca o havia percebido. A esquerda, confortável com a hegemonia que perdeu e ainda não percebeu claramente ter perdido, pode dar-lhe muitos votos simplesmente amplificando seu discurso, fazendo contraprotestos onde seus seguidores se manifestem e acusando-o de todas essas coisas que hoje em dia são tidas por crime, mas para a população em geral são motivos de orgulho.