Os gringos acharam simpaticíssimas nossas capivaras, que fizeram figuração em algumas categorias olímpicas. Realmente, elas parecem esquilos crescidos. Seria uma perda gigantesca se elas fossem extintas, como em algum momento chegou a parecer que poderia ser possível.
Por outro lado, famílias de capivaras passeando à noite pelas estradas, evidentemente sem luzes de posição, são uma péssima pedida. Surtos de febre maculosa, transmitida pelos carrapatos que habitam confortavelmente o pelame dos bichinhos, tampouco fazem bem à sociedade. Canteiros e hortas devorados por elas no atacado também causam prejuízos sérios.
Capivaras são uma riqueza da nossa fauna, e devem, sim, ser protegidas, mas dentro de limites racionais
O problema é que hoje em dia parece ser impossível chegar a um meio-termo adequado, nem tanto ao mar nem tanto à terra. Capivaras são uma riqueza da nossa fauna, e devem, sim, ser protegidas, mas dentro de limites racionais. Elas não são nem podem ser bem-vindas em toda parte, pois – por mais fofas que sejam – no lugar errado elas causam problemas sérios. Num meio ambiente intocado, a superpopulação delas seria contida pelo apetite dos jacarés, que – felizmente! – não são (ainda?) tão onipresentes. Se ter capivaras comendo as plantas, enchendo a grama de carrapatos e se enfiando na frente dos carros na estrada já faz delas animaizinhos de difícil convivência, bem pior seria vê-las perseguidas por jacarés nas praças da cidade. Afinal, o mesmo jacaré que come capivaras comeria com apetite cachorrinhos de madame, ou mesmo crianças pequenas. Péssima companhia, ainda que ecologicamente apropriada a combater a superpopulação dos roedores.
Apesar do horror instintivo daqueles que acham que os peitos de frango desossado que compraram no supermercado cresceram dentro da embalagem plástica, é a nós, os seres humanos, que compete combater a proliferação exagerada desses simpáticos porquinhos-da-Índia em versão graúda. A caça às capivaras poderia, por exemplo, ser liberada em épocas do ano que não colocassem a espécie em risco. Os caçadores poderiam até mesmo ser proibidos de usar armas de fogo, devendo os animais ser caçados com arcos e flechas, de acordo com a mais legítima tradição tupiniquim e no mais refinado espírito venatório. Teríamos, assim, todo ano uma época marcada por alegres churrascos capiváricos nos quintais suburbanos, o que me parece bem mais agradável que tê-las abatidas em acidentes automobilísticos graves, o que tem se tornado cada vez mais comum.
A convivência entre capivaras e civilização demanda que esta controle aquelas; sem que isso seja feito, o que acabará por acontecer será o aumento da caça ilegal, ou mesmo do capivaricídio movido por puro espírito de autopreservação, e a espécie estará novamente em risco. Um meio-termo é preciso.
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