Com a abertura da caixa de Pandora da elasticidade infinita dada ao sentido do termo “casamento”, a cada dia surge uma novidade. A instituição de direito natural pela qual um homem e uma mulher se unem para ter filhos e criá-los e para ajuda mútua foi substituída por um vago reconhecimento estatal da existência de afeto sexuado, como se sexo ou afeto fossem da alçada do governo. O primeiro e mais evidente efeito prático desta substituição é acabar com a proteção estatal aos casamentos verdadeiros, agora jogados numa vala comum de relações afetivas sexuadas. Alguma proteção social continua, mesmo porque a população brasileira não tem o hábito de ver na legislação uma fonte de moral, mas mesmo ela diminui tremendamente.

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O primeiro e mais evidente efeito prático é acabar com a proteção estatal aos casamentos verdadeiros.

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Outro efeito, este operando em prazo mais longo, é a fragilização da situação da mulher. O papel social mais básico do casamento é a proteção da mulher, que na exata medida em que o matrimônio é aviltado cada vez mais se vê vitimada. Mulheres forçadas pelas circunstâncias e pelo egoísmo masculino a conciliar heroicamente um emprego – no mais das vezes mal pago – e o cuidado dos filhos tornaram-se hoje a regra. É comum, especialmente nas classes mais baixas, encontrar lares em que duas ou três gerações de viúvas de maridos vivos criam órfãos de pais vivos, sem nenhuma ajuda que não a mútua.

E eis que agora é raro passar uma semana sem que surja uma nova notícia de reconhecimento cartorial de agrupamento poligâmico. Faz sentido, na lógica perversa da reconstrução do casamento; se há afeto e há sexo, dá para fingir que é casamento. É mais um passo rumo ao retorno das mulheres à situação de opressão absurda em que viveram antes do surgimento do cristianismo, que enquanto atuou como princípio civilizatório do Ocidente cortou pela raiz a tentação de negar liminarmente a dignidade feminina ao pregar que há uma Rainha dos Céus e da Terra.

A descristianização da sociedade ocidental, todavia, iniciada no Renascimento e acelerada com a medrança da sociedade burguesa na Revolução Francesa, já trancara de novo as mulheres dentro de casa a pilotar vassouras. Continuando o declínio da condição feminina, ressurge agora esta outra instituição pagã de humilhação da mulher: o harém. É mais um passo para a redução das mulheres a coisas, que só podem ser propriedade ou dejeto. O espírito que anima a poligamia é o mesmo que faz com que se considere comportamento normal em festas puxar moças pelos cabelos e obrigá-las a beijar.

A menor força física da mulher, o modo como sua beleza age sobre o homem e a exclusividade feminina da certeza da paternidade das crianças fazem com que seja fácil e tentador coisificar a mulher. E é isto o que cada vez mais vem sendo feito.