No filme À Meia Luz, de 1944, a personagem interpretada pela belíssima Ingrid Bergman vai sendo convencida pelo marido de que está louca. Negando veementemente a realidade, ele faz de tudo para que ela mesma duvide do que os próprios olhos veem. Uma campanha cara e bem coordenada vem tentando fazer a mesma coisa com a totalidade da nossa população; assim como no filme, todavia, chega uma hora em que o absurdo da tentativa se torna aparente demais.
Alguns anos atrás, escrevi aqui sobre o triste incidente em que o grande desenhista Laerte, vivendo a triste ilusão de ser agora uma senhora idosa, tentou usar o banheiro feminino de um restaurante. De lá pra cá, este absurdo foi fartamente patrocinado e inflado, tentando fazer do delírio de poucos uma loucura coletiva, para assim enfraquecer os laços pessoais e familiares que fortalecem a sociedade civil contra os aspirantes a ditador. Trata-se de campanha cara e bem orquestrada, e em outros países já há até casos mais alucinados, como o do escândalo farisaico do cantor Bruce Springsteen com uma lei estadual americana que manda os homens usarem o banheiro masculino e as mulheres, o feminino. Ora, escandaloso é tal lei ser necessária.
Estão tentando fazer do delírio de poucos uma loucura coletiva
É inegável que haja pessoas incapazes de lidar com a realidade dos fatos biológicos e alimentam a ilusão de pertencerem ao sexo oposto. Trata-se, contudo, de um problema seríssimo na percepção de si mesmo. Apesar de ser mais grave e mais aberrante, por dizer respeito a algo tão básico e essencial quanto a distinção entre o masculino ou o feminino, é de grau, não de essência, a diferença entre o dito transgênero, que julga pertencer ao sexo oposto, e o anoréxico esquelético que se vê gordo ao espelho, ou o vigoréxico musculoso ao ponto da hipertrofia e envenenado de esteroides, que ao se olhar no espelho crê-se magro e fraco.
Transtornos de autoimagem são mentais, não físicos. As causas são muitas, mas o que temos em todas elas é alguém que patologicamente não gosta de si mesmo, alguém que nega o valor do que vê no espelho e julga ser o que não é.
O que se vem fazendo com algumas dessas pobres pessoas, no entanto, é criminosamente cruel. Para atacar a sociedade, estão usando os ditos transgêneros como bucha de canhão, dando-lhes a expectativa absurda de que seus delírios serão compartilhados pelo grosso da população. Os pobres rapazes são convencidos de que, se saírem à rua de vestidinho de chita, serão percebidos por todos como as mulheres que eles não são, ganhando, entre outros, o privilégio de usar o banheiro feminino! Ora, isso é tão cruel quanto seria levar uma mocinha anoréxica de 30 quilos para comprar roupas numa loja para obesas.
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