Estamos vivendo o fim dos Estados modernos. Esta forma de organização social, ao que tudo indica, será pouco mais que uma nota de pé de página dos livros de História do futuro, devido à sua curtíssima duração. Em pouco mais de 150 anos, eles atingiram o seu auge e entraram em rapidíssima decadência. Em duas ou três gerações eles serão apenas uma lembrança.
Dentre eles, o Estado moderno por antonomásia é os Estados Unidos da América. Baseando-se em ideias utópicas e não numa identidade nacional preexistente, fazendo pela força tábula rasa dos territórios que conquistava, imanentizando o escatológico nos próprios mitos de origem, os EUA – como teria dito Churchill – foram o primeiro país a passar da barbárie diretamente à decadência, sem conhecer um período intermediário de civilização.
A Europa cristã e seus descendentes diretos, como a América Latina, dispõem de uma ossatura civilizacional anterior a que recorrer com o fim do Estado moderno, ainda que no caso europeu ela tenha de ser redescoberta em pleno voo, em conflito aberto com seu antigo inimigo islâmico. O mesmo ocorre com os países orientais, especialmente os de matriz confuciana.
A ascensão de Trump e Sanders aponta claramente a incapacidade atual das oligarquias tradicionais
Os EUA, no entanto, não têm para onde ir. A única saída possível dentro da visão moderna e ideológica que orienta o pensamento político americano é fazer mais do mesmo, forçar mais ainda a realidade a dobrar-se àquilo que ela, nos devaneios utópicos dos ideólogos, deveria ser. Daí o rápido declive das liberdades civis nos EUA desde o início do século, fartamente comprovado e sentido na pele por Snowden, Assange e Manning. O complexo industrial-militar que, como alertara Eisenhower, governa os EUA, mantendo-os em estado permanente de guerra agressiva e tornando-os o mais grave fator de instabilidade geopolítica no mundo atual, está aos poucos voltando-se para a política interna, com a militarização das polícias e vigilância estatal panóptica dos meios eletrônicos.
A rápida dissolução dos mecanismos de controle social, como o sistema bipartidário, todavia, leva a situações de entropia acelerada, a que o sistema só pode responder com mais do mesmo. Nas prévias de ambos os partidos, a ascensão de Trump e Sanders, candidatos desligados das máquinas partidárias, aponta claramente a incapacidade atual das oligarquias tradicionais; ser um Bush ou um Clinton já não é mais garantia de vitória intrapartidária.
Como o descompasso entre as promessas de campanha pacifistas e a prática belicista de Obama mostra, contudo, não basta a um presidente americano querer fazer algo. Na prática, ele é refém de um sistema autogerido, e o máximo que um presidente adventício poderia fazer seria orientar alguns poucos aspectos da política interior.
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