Quando as consequências de um raciocínio são excessivamente aberrantes é comum que elas sejam ignoradas. É o que ocorre com a demonização atual da desigualdade social. Ensina-se nas escolas que a desigualdade social é um mal; as notícias de jornal e as políticas públicas partem desse pressuposto, sem que ninguém, aparentemente, dê o próximo passo lógico.
Ora, a desigualdade social é um bem, não um mal. É desigualdade social um cirurgião ganhar mais que um auxiliar de enfermagem ou um professor universitário ganhar mais que um servente de pedreiro. Má é a miséria, não a desigualdade.
Os ataques à desigualdade partem do pressuposto errôneo de que a economia é um jogo de soma zero, em que a única maneira de alguém ter mais dinheiro que o próximo é roubá-lo de outrem. É por isso que os inimigos da desigualdade, quando se dedicavam aos assaltos e sequestros para bancar suas atividades bélicas nos anos 70, chamavam seus roubos de "expropriação proletária". Os "proletários" ou "pobres", em comunistês seriam os assaltantes, que estariam "expropriando", ou seja, "tirando da propriedade" dos ricos o que na verdade pertenceria de direito aos pobres.
É esse raciocínio que faz com que os assaltantes de bancos dos anos 70, hoje no poder, vejam na polícia um inimigo de classe, um repressor, e nos bandidos as verdadeiras vítimas. É esse raciocínio que os leva a proteger os ladrões, dar-lhes bolsas em dinheiro, diminuir as penas criminais e proibir o uso de algemas, entre outras causas imediatas do aumento obsceno da criminalidade nos últimos anos.
Do mesmo modo, se o assaltante é a verdadeira vítima, entende-se porque só interessam a nossos governantes os direitos humanos dele, nunca os das moças estupradas, dos rapazes assassinados ou dos que meramente sofreram a "expropriação" da casa invadida, carro roubado ou carteira furtada. Entende-se que nossos impostos financiem a produção de filmes em que a polícia é o vilão e o criminoso o herói. Entende-se que os salários dos policiais sejam ínfimos, que suas condições de trabalho sejam péssimas, que sua vida não valha nada para o governo.
Fala-se de "violência", não de criminalidade, para que se possa atacar duramente crimes estatisticamente irrelevantes como manifestações orais de racismo e outras boçalidades banais e, ao mesmo tempo, proteger e preservar o que realmente apavora e inferniza nossa população: latrocínio, roubo e demais formas da "expropriação proletária" que fez a alegria da juventude de nossos governantes.