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Na noite de sábado para domingo passado, a Guarda Municipal surpreendeu um grupo de jovens "góticos" em uma espécie de orgia no Cemitério Municipal de Curitiba. Além do óbvio, ou seja, de que faziam a coisa errada no lugar errado, este fato mostra uma expressão mais forte que o normal de algumas desordens típicas da sociedade atual.

A base do problema está no "sumiço" das extremidades da vida. Nossa experiência na Terra começa com o sexo, que gera a vida, e termina com a morte, que a conclui. Hoje, uma e outra coisa são escondidas de todos: o sexo tem um seu aspecto acidental – o prazer que dele se tira – tratado como o todo. A geração de vida, que afinal é a razão de existir do sexo – se encomendar bebês fosse tão desagradável quanto extrair dentes, a humanidade já teria acabado há muito tempo! –, é tratada como se fosse quase uma doença, com "remédios" para preveni-la e barreiras de borracha para impedir que ocorra. O prazer sexual, que é importante – tanto quanto o prazer da comida gostosa – mas está longe de ser o principal, é a única coisa de que se pode, de que se deve, falar. Parece o que faziam os romanos decadentes, que comiam, vomitavam e comiam mais em seguida.

A morte, por outro lado, foi medicalizada. Assim que a pessoa parece estar próxima a ela, a sociedade se apressa em escondê-la em um hospital, preferencialmente na UTI, com uma hora de visita por dia. Depois da morte, só se vê o corpo maquiado, coberto com tamanha camada de tinta que mais parece uma boneca do falecido.

E essa morte oculta atrás do biombo da UTI, assim como esse sexo oculto por trás da celebração do prazer, tornam-se mistérios, mistérios que são percebidos vaga e desordenadamente pelos jovens: falta algo na vida.

E aí entram os "góticos". O nome que se dá a esses jovens vestidos de preto, que cultuam como poetas românticos uma morte que não conhecem, chega a ser irônico; poucas modas poderiam ser mais distantes da arquitetura gótica, com suas fabulosas construções de pedra aparentemente sem peso, cheias de luz colorida por vitrais altíssimos, ornadas por espiras que apontam para o Céu, oferecendo um sentido para a vida inteira – da concepção sexual à morte pública e aceita como parte da existência.

Aí esses jovens, na sua confusão, tentam, de algum modo, viver o que não conhecem, fazendo prazer no lugar de sexo, com túmulos, que fazem as vezes da morte, no lugar da cama onde somos concebidos e deveríamos morrer. Mais que meros vândalos, eles são um sintoma de uma desordem social.

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