Acabo de passar pela experiência traumatizante de ler, de cabo a rabo, os cadernos de prova do Enem 2013. Assustadores. Escritos naquele jargão pavoroso que no Brasil se faz passar por linguagem acadêmica, eles tentam cobrar de suas vítimas não um conhecimento real, mas a adesão ao conjunto de pseudovalores que o governo atual tenta empurrar goela abaixo da nação.
A redação, que o enunciado obriga a ser a favor da Lei Seca (esta bisonha tentativa de criminalizar um suposto aumento porcentual da chance de cometer um crime), é a única prova com um nome mais ou menos normal. As provas de Português e de línguas estrangeiras, por exemplo, chamam-se no Enem "Prova de linguagens, códigos e suas tecnologias", como se tratassem de teclados de computador, do traçado das letras, que sei lá eu. Parte do jargão com que se tenta obscurecer o sentido das coisas e vender um peixe podre que a ninguém interessa.
Por baixo do jargão, uma visão de mundo paupérrima e repetitiva, ao ponto de levar o rapaz que gentilmente me trouxe as provas a comentar que lhe fora útil o conselho que eu lhe dera de colocar-se na pele de um membro do diretório central de algum partidúnculo de extrema-esquerda para responder as questões. Em todas as provas "tecnologias" à parte reina soberana a ilusão de um mundo em evolução rumo ao mais bizarro igualitarismo, em que o sexo é irrelevante, mas a "raça" determina o destino de cada um, e em que sábias leis reinventam a natureza humana. Na cabecinha oca de quem compôs as provas, o passado é necessariamente pior que o presente, a religião é algo vagamente doentio e a internet é um lugar perigosíssimo.
Este bestialógico, contudo, já perdeu o bonde. Dá para entender o pavor da internet que anima tantas questões do Enem: é por ela que se comunicam os jovens, é nela que se difundem as boas ideias que os ideólogos do poder tentam impedir que cheguem à mente da população. É na rede que os furadíssimos mitos utópicos com que os poderosos tentam negar a realidade são expostos e ridicularizados.
O fracasso desta tentativa de controle das mentes pode ser percebido pelo interesse que vêm tendo as narrativas históricas e sociológicas que divirjam das mentiras marxistas que compõem a totalidade do ensino escolar: dos dez livros de não ficção mais vendidos hoje, a maior parte é composta por livros não marxistas de história ou crítica social.
Quanto mais o governo insiste em suas mentiras, menos ele é crido. Pudera! Ninguém aguenta tanto jargão "e suas tecnologias"...
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