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Vinho (ou cerveja), mulheres e música: é assim que se faz uma festa. Para o brasileiro médio isso ainda é óbvio, mas para o europeu médio, infelizmente, é algo esquecido.

Os franceses escrevem tratados sobre a festa como anseio, os alemães marcam dia e hora exatos para ela começar e acabar. No Brasil, a gente festeja. Há quem diga que isso é leviandade, que é um mau sinal quanto à cultura de um país. Já eu, no meu cantinho, acho ótimo.

A festa é o outro lado do trabalho; é a alegria da festa que garante que a seriedade do trabalho não se torne uma mania, uma obsessão mórbida que pode acabar levando a uma sociedade enlouquecida. Os tristes acontecimentos do século passado na Europa, em que guerras e genocídios sucederam-se com apavorante previsibilidade, podem ter entre suas causas o esquecimento dessa alegria de viver tão básica que a festa mostra e fomenta.

E as festas que temos são herdadas das festas europeias. Mesmo o nosso carnaval é uma festa originalmente europeia que, na seriedade crescente que tomou conta daquelas bandas, acabou ou sumindo ou virando uma ocasião de apreciação estética e artística muito séria, como em Veneza. Ele marca justamente que se aproxima o tempo da seriedade quaresmal.

Mas é justamente a alegria anterior a ela que faz com que a penitência possa existir sem se transformar em algo mórbido, num prazer do sofrimento pelo sofrimento. É o mesmo fenômeno do churrasco de domingo, que ilumina pela diferença a seriedade da segunda-feira que se lhe segue e ao mesmo tempo impede que esta seriedade se apodere do domingo em família.

Tudo é, ou deveria ser, motivo de festa: o jogo que se ganha e o jogo que se perde, a mudança que ocorre e a persistência do que não muda. É na festa que encontramos a reta medida do que é sério, é na festa que percebemos até mesmo o tempo passar: São João é no frio, Natal é no calor, no mesmo calor que vai embora no carnaval.

No Brasil nós não perdemos este talento magnífico de, quando a vida nos dá limões, fazermos uma caipirinha. De dançar até o sapato dizer chega, e então tirar o sapato e continuar dançando, como disse Chacal. De sorrir para as moças, de rir alto, feliz. De chegar ao fim do expediente, afrouxar a gravata e sorrir, sabendo que o trabalho, por hoje, acabou.

Em homenagem aos alemães, que nos deram a cerveja, aos franceses e italianos, que nos deram o gosto pelo vinho, só o que podemos fazer é o que eles nos ensinaram, antes que esquecessem como se faz: festejar.

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