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Carlos Ramalhete

Mais do mesmo

 | Valter Campanato/Agência Brasil
(Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Os índices da educação brasileira só perdem para os do Kosovo. A depender de nossos políticos, contudo, eles que estão sempre prontos a meter o bedelho no que não é de sua seara e “regulamentar” à exaustão toda realidade que desconhecem, em breve os kosovares nos buzinarão, felizes, da faixa de ultrapassagem.

O projeto de reforma da educação aprovado pela Câmara consegue reunir em tudo o pior de vários mundos: nosso tradicional bacharelismo faz com que sejam necessários diplomas, diplomas, muitos diplomas! Diplomas de licenciatura, ou pelo menos a famigerada “complementação pedagógica”, para lecionar; diplomas, presume-se, para ser diretor de escola; e, se piscar o olho, mesmo para o servente. A mania de fazer mais do mesmo, que caracteriza todo esforço ideológico, quer aumentar as já excessivas horas de encarceramento dos alunos até chegar a uma escola de tempo integral, onde a criança fique presa o dia inteiro e só saia à noite para visitar os pais, exausta. As disciplinas de Sociologia-que-não-conhece-Gilberto-Freyre e Filosofia-da-Escola-de-Frankfurt, com currículos na prática ditados pelos mesmíssimos marxistas que nos dão o Enem, também voltam a assombrar os alunos do ensino médio.

A alma nacional tem esse sonho grandiloquente de abraçar o mundo com uma pena

Ora, se turmas com metade do tamanho das atuais assistissem aula dia sim, dia não, já seria um progresso. O oposto, claro, da intenção de nossos assíduos legiferadores. Se o currículo, longe daqueles medonhos Parâmetros que se propõem, pudessem ser apenas um indicador de rumo a seguir e de fins a alcançar, a coisa melhoraria mais ainda. Se se permitisse a livre competição no mercado, sem demandar diplomas que não provam nem mesmo se o candidato a professor é alfabetizado, teríamos aulas mais bem dadas. Mas não. O que se faz é sempre mais do mesmo, mais do mesmo até que o navio afunde de vez. A matéria das disciplinas é absurdamente vasta, com uma progressão verdadeiramente antipedagógica. As faculdades que recebem os analfabetos funcionais vomitados em massa pelo ensino médio brasileiro são forçadas a ministrar aulinhas remediais de tudo aquilo que os alunos deveriam saber desde o ensino fundamental.

Isso é assim porque a alma nacional tem esse sonho grandiloquente de abraçar o mundo com uma pena e encerrá-lo dentro de um pergaminho, carimbado, assinado em três vias e protocolado na repartição competente. O que passa por instrução no Brasil é uma piada, justamente por fazer dos diplomas e do tempo encarcerado em sala um fetiche pouco salutar. As instituições, entregues às mãos das ideólogas sem experiência de classe formadas pelas faculdades de Pedagogia, só fazem perpetuar os mesmos engodos. Mais do mesmo. E quem sofre, com isso, é toda a pátria em cada um de seus estudantes.

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