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Menininhas são seres de infinita complexidade, de que nada parece fazer sentido.

Amam filhotinhos de todo tipo. A definição de filhotinhos, contudo, é um tanto ou quanto turva, como sói acontecer quando se trata de menininhas: é filhotinho o que ela consegue levar no colo. Ou segurar. Ou agarrar com força e tirar por alguns segundos do chão, de ponta-cabeça, desesperado, tentando escapar. Nada mais ilustrativo do tipo de cuidado amoroso proporcionado por uma menininha que vê-la, visivelmente enlevada, a carregar pelas patas um pobre cãozinho.

Os espelhos as atraem, assim como as roupas – especialmente as coloridas – e todo tipo de badulaque brilhoso para prender nos cabelos. Maquiagens, esmaltes e demais tintas são sempre bem vindos. O efeito, todavia, raramente é do agrado da mãe; referências pouco elogiosas a Judas no Sábado de Aleluia são, em geral, o veredicto materno acerca do resultado estético dos esforços das menininhas ao se arrumar por conta própria. É um preconceito, um esquecimento de quando ela, mãe, era também um desses serezinhos. Afinal, que mal faz combinar meia-calça verde-limão com saia cor-de-abóbora e blusa vermelha com listrinhas azuis, tudo isso precariamente equilibrado sobre os saltos altos da mãe?! Se o visual for arrematado por uma bolsa de ursinho, o efeito é irresistível. O pai concorda, às gargalhadas.

Os brinquedos das menininhas são muitos. Coisinhas pequenininhas e brilhantes são as preferidas, e para quem não está imerso na brincadeira é até difícil entender do que se trata. Vê-se a menininha, ou as menininhas, quando reunidas em bando, sentadas em círculo, com miríades de objetos ínfimos, arranjando-os e rearranjando-os em constelações de sentido, contando histórias e encenando diálogos cujo sentido só elas alcançam. Mas isso não dura muito. Em algum momento ela vai sair correndo, esquecida de tudo, atrás de um gato ou cachorro imprudente que resolveu passar por ali. As roupas que tanto cuidado teve em escolher e vestir viram trapos, os brinquedinhos são chutados para baixo dos móveis, mas o sorriso que ilumina o rostinho é real.

A vítima favorita destes serezinhos, no entanto, mais dominada que qualquer gato ou cachorro, é sempre a mesma: o pai, aquele que se derrete a cada piscadela das longas pestanas que aparecem por baixo das manchas de chocolate que cobrem o rostinho querido. Aquele pobre barbado, cujos dias são iluminados pelo sorrisinho banguela da menininha que lhe agarrou o coração. Pelas patas. De cabeça pra baixo.

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