Seria divertido poder me orgulhar da minha capacidade de prever os rumos da engenharia social que nos vitima cotidianamente, se seus destinos não fossem tão uniformemente péssimos.
A última investida de engenharia social acaba de mudar de marcha, com estrépito: subitamente, como se fosse apenas mera coincidência, surgiu, pronto e armado da cabeça de Zeus, um discurso novo sobre a pedofilia. A preocupação agora é separar a prática pedofílica – ou seja, o abuso sexual de criancinhas – da pedofilia, digamos, “platônica”. Resolveram que os estupradores de criancinhas, vejam bem os senhores, as estuprariam sem ter interesse sexual por elas. Enquanto isso, haveria aos borbotões verdadeiros pedófilos – estes, sim, anjos de pura candura, incapazes de fazer mal a uma mosca – suspirando de amor não correspondido pelas mesmas criancinhas. Estes só poderiam ser reconhecidos por um profissional gabaritado.
Notem como aumenta cada vez mais a dissociação absurda entre desejo e prática
O objetivo desta estranhíssima divisão é intermediário: primeiro separa-se uma prática perversa que provoca horror e asco em qualquer pessoa decente de uma suposta versão inocente dela, descrita em termos supostamente médicos. Com a medicalização, o problema é retirado da alçada do discurso moral. É neste ponto que estamos.
A próxima etapa é inverter a brincadeira, medicalizando o ato pedófilo, enquanto se acentua que a pedofilia “platônica” é uma forma de amor como qualquer outra. Os estupradores de criancinhas passam a ser os coitadinhos da vez, enquanto os que meramente fantasiam sobre isso em seus momentos insones passam a ser apenas uns incompreendidos. Notem como aumenta cada vez mais a dissociação absurda entre desejo e prática.
Ora, desejo é desejo de algo. Não existe desejo solto no ar. O fumante deseja um cigarro; o alcoólatra, um trago; o pedófilo, uma criança. Cada desejo que nos permitimos ter traz em si a esperança de sua satisfação prática. Ao contrário da atração sexual adulta e sadia, que visa alguém igualmente capaz de consentimento, a pedofilia é por definição um interesse desigual. É o desejo de sexo com alguém – qualquer alguém – que não sabe nem sequer o que é sexo; é a atração não por uma pessoa, mas por uma fase temporal da vida, a ser normalmente ultrapassada muito antes de procurar parceiros.
Além disso, a nossa sociedade já foi condicionada a confundir luxúria e amor, e, pior ainda, a considerar que a luxúria, justamente por se fazer de amor, legitima qualquer comportamento. Surgirão então inúmeros casos de um dito amor, oprimidos pela sociedade, malvada ao ponto de achar que é doença o que é apenas – vejam e emocionem-se, senhores – excesso de amor. E vai ser aí que virão atrás dos meus netinhos. Eu vou estar esperando, também cheio de amor pra dar.
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