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Carlos Ramalhete

Rádio-táxis de antanho

Ainda nos anos 80, assisti a uma palestra de um filósofo francês que anunciava a "era pós-midiática". Os computadores, dizia ele, estavam tornando possível editar um jornal em casa e imprimi-lo em pequena escala. Em breve, todos poderiam fazer ouvir sua voz, sem ser necessário cavar um nicho nos poucos veículos de mídia – jornais, rádios e tevês – que então controlavam toda a comunicação de massa. Esta era, realmente, chegou. Os computadores de mesa lentíssimos de então foram substituídos por celulares que cabem no bolso e se comunicam uns com os outros.

O melhor do pós-midiático é a capacidade de organização e ação que ele proporciona. Enquanto naquele tempo um jornalzinho mimeografado podia ter até 200 cópias, hoje um blog publicado de graça a partir do telefone pode ter milhares, ou até milhões, de leitores. Inversamente, é possível encontrar quem partilhe um interesse restrito; lembro-me da minha alegria, nos anos 90, quando descobri uma lista de discussão de judaísmo do século 1.º na internet.

O pior é o mesmo que o melhor: a mesma facilidade que se tem para publicar um blog pode servir para violar a intimidade de alguém, distribuindo, por exemplo, fotografias comprometedoras; depravados e vândalos se reúnem e planejam ações pela rede.

Mas a era pós-midiática está aí, e temos de lidar com ela.

Falta, contudo, alguém avisar às autoridades encarregadas de organizar o transporte público. Em Curitiba, os aplicativos de celular que põem em contato taxistas e fregueses estão sendo atacados por burocratas com saudades do tempo d’antanho. Querem adequar algo plena e perfeitamente pós-midiático a regras concebidas para cooperativas de rádio-táxi do século passado; ora, não há diferença prática alguma entre fazer isso e exigir que todo blog tenha um jornalista responsável. É uma negação da realidade, não uma tentativa de ordená-la. A ordenação necessária, no caso, já é feita pelo mercado.

Alegam os burocratas que táxis piratas podem fazer uso do serviço, o que só faz comprovar que o mecanismo de licenciamento de táxis também é falho; afinal, se há táxis piratas é por haver demanda.

A única diferença entre usar um aplicativo e celular e levantar o braço para chamar um táxi é que o aplicativo permite chamar um táxi que esteja a duas quadras de distância. Aproximar os interessados é uma função básica da tecnologia, especialmente da tecnologia pós-midiática. E este é um caso em que isto está sendo usado para o bem. Burocratas, deixem os taxistas em paz!

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