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O casamento é uma instituição de direito natural, pela qual um homem e uma mulher se unem para ter filhos e criá-los e para auxílio mútuo. Do casamento surge a célula familiar, a menor das células sociais e a mais resistente a pressões externas. Esta resistência vem justamente do fato de ela ser uma instituição natural, ao contrário dos times de futebol, corais gregorianos e repartições públicas. Se fosse possível criar um dia uma sociedade desprovida de famílias, com a reprodução ocorrendo apenas em laboratório e com o sexo absoluta e completamente livre e dissociado dela, como no livro Admirável Mundo Novo, mesmo assim um casalzinho iria se unir aqui e outro ali e, quando se percebesse, a família estaria de volta.

O casamento é o investimento de duas vidas no futuro da sociedade para a perpetuação de tudo aquilo que foi herdado dos pais e dos avós

Para a sociedade é um excelente negócio reconhecer a família e ajudá-la; afinal, quanto mais crianças são criadas pelo pai e pela mãe, menos cadeias são necessárias. São as famílias, não as escolas, que educam os filhos. Algumas sociedades consideram a família tão importante que tomam vários cuidados para evitar que uma paixonite confundida com amor verdadeiro dificulte o surgimento dele no interior da família ao longo dos anos.

O casamento, afinal, é o investimento de duas vidas no futuro da sociedade para a perpetuação de tudo aquilo que foi herdado dos pais e dos avós. Não é pouca coisa, e certamente não deveria jamais ser confundido com uma festança de arromba para celebrar paixonites imaturas.

Quando, todavia, uma sociedade está doente, como estão as ocidentais, a enorme riqueza cultural que a modelou parece irrelevante – da arte à tecnologia, passando pela moral, pelos mecanismos de resolução de conflitos e pela própria língua. A ordem social passa a ser vista como algo artificial, a ser reinventado e recriado ao prazer dos ventos e das modas. É o que ocorreu na Irlanda, em maio, e nos EUA, na semana passada: o casamento deixou de ser reconhecido pelo Estado, que legalmente o confundiu com uma comemoração da presença de afeto mútuo. A preparação do futuro pela preservação do passado foi substituída pela celebração do presente, o que não é de se estranhar em sociedades consumistas movidas a crédito.

Chamar de “casamento” uniões de pessoas do mesmo sexo não é uma manifestação de uma igualdade, como não o seria chamar lombinho de porco de pão de leite só porque a cor é a mesma. É falta de reconhecimento, de saber o que é aquilo que se vê. É bem verdade que já tivemos prova da mesma miopia entre os nossos juízes-legisladores, mas aqui, ao menos, ninguém leva a sério o que o Estado reconhece ou deixa de reconhecer.

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