Terceirizar nossa coragem e indignação é sempre uma tentação. Quando a isto se junta a nossa cultura de paternalismo sebastianista, a chance de tudo dar errado é gigantesca. Collor elegeu-se como o “caçador de marajás” (estes seriam funcionários públicos com salários altos demais). O próprio Lula elegeu-se calçando os sapatos de “Pai dos Pobres” deixados vagos por Getúlio e Brizola. Agora, com a máquina petista batendo biela e soltando fumaça preta, corremos o sério risco de ver aparecer outro Salvador da Pátria – assim mesmo, em maiúsculas, que esse pessoal se leva terrivelmente a sério – para nos jogar mais fundo ainda no abismo, com a desculpa de estar fazendo o que precisava ser feito.

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A política eletiva atrai as piores pessoas, porque os talentos necessários para ser eleito são os mesmos necessários para ser um bom estelionatário: o sujeito tem de convencer cada pessoa de que ele é aquilo que ela quer que ele seja, tem de ser simpático, beijar criancinhas, apertar muitas mãos (sempre “passando confiança”), inspirar amor maternal nas velhinhas e um vago frisson erótico nas mal-amadas, parecer o parceiro ideal de cerveja para os homens, e, ainda por cima disso tudo, como cereja do bolo, tem de “nos representar”, seja lá o que isso signifique. Creio que seja sinônimo de tudo o que acabo de enumerar, numa espécie de terceirização através do charme, pela qual abdicamos de ter uma participação efetiva na vida política da nação, mas mantemos bem gordinhos, às custas do Erário, uma chusma de salafrários.

Os talentos necessários para ser eleito são os mesmos necessários para ser um bom estelionatário

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O páreo ainda está praticamente vazio, o que não quer dizer que assim continue se a “representanta” do Lula, por bem ou por mal, abrir uma vaga em Brasília. O deputado Bolsonaro, alçado às raias de “mito” nas redes sociais por ter feito da violação do discurso politicamente correto uma forma de arte, dificilmente conseguiria levar sua popularidade virtual ao mundo real. Se algo lhe desse muito tempo de tevê, talvez ele tivesse alguma chance, mas como estão as coisas é pouco provável.

O importante é nos lembrarmos de que o poder dos governantes não é deles: é nosso. O poder de que eles dispõem é só aquele de que abdicamos, e quanto mais formos enganados por eles mais poder lhes daremos. A política representativa é o paraíso do estelionatário, de esquerda, de direita ou “de centro”, e o simples fato de alguém ter chance de ser eleito já deveria bastar para nos fazer desconfiar de sua honestidade e intenções.

Com o vexame do lulismo, que se vendeu à população como esperança e dedicou-se à roubalheira e falcatrua mais prosaicas, o campo está maduro para outro grande mentiroso, derramando charme barato e roubando-nos o poder e a responsabilidade política.

Cuidado.

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