Fidel Castro, como Hitler, Pol Pot, Stálin e outros tiranos, foi uma figura típica do século 20. Sua morte na segunda década do século 21 é um desses acidentes da história; ele continuava firmemente preso ao universo mental da década de 1950. Sua ideologia, como as casas e os carros da ilha-prisão que seu irmão agora herdou, era escorada em pé enquanto se desmanchava, lentamente, ruindo um pouco a cada dia, mas sempre apoiada nas mesmas mentiras supostamente reconfortantes de um serviço de saúde e escolas maravilhosas. Quanto ao serviço de saúde, podemos aferir sua péssima qualidade pelos médicos escravos-de-ganho da senzala castrista que o governo brasileiro vergonhosamente alugou. Quanto às escolas, de que adianta saber ler se não se pode ler a verdade? Pouco e ruim é o material de leitura disponível em um país com uma censura infinitamente mais rígida que a dos momentos mais fortes das ditaduras militares brasileiras – todas, da Proclamação da República para cá; nunca houve no Brasil tamanha censura como há em Cuba.
O século 20 foi o século dos genocídios. Nunca na história o homem matou tantos de maneira tão sistemática
Mas o apavorante não foi a morte do velho tirano, e sim as reações dos políticos brasileiros. Para Lula ele era “como um irmão mais velho”, o que nos faz suspirar aliviados por termos escapado do que certamente estaria nos planos do irmão mais novo fazer. Não conseguiram nos transformar em uma Cuba gigantesca, desmanchando-se lentamente ao sol tropical enquanto médicas e engenheiras se prostituem por um sabonete ou absorvente. Até mesmo para a oposição consentida pelo PT, o PSDB, Fidel revelou-se uma figura louvável, quiçá imitável. Isso é assustador.
O século 20 foi o século dos genocídios. Nunca na história o homem matou tantos de maneira tão sistemática, em escala tão industrial. Os sacrifícios humanos astecas ceifaram centenas de milhares de vidas até os povos subjugados por eles se levantarem com auxílio espanhol; mesmo assim eles empalidecem diante dos horrores do século 20, muitos deles perpetrados pessoalmente por Fidel ou por ele ordenados. A sobrevivência de Fidel nos corações e mentes dos políticos brasileiros nos leva a crer que para eles o genocídio é um detalhe e o paredón, troco de pinga.
Qualquer século seria melhor como modelo. As vastas barbas do século 19, que parecem estar de volta, apontariam para outro tempo mais feliz. Mesmo a era das revoluções, com todos os seus morticínios, ainda seria menos má que o século passado. E é neste que está presa a quase totalidade de nossa classe política atual; só quem escapa são os fisiológicos – que não são a favor de nada que não locupletar-se com o dinheiro público, coisa aliás em que Fidel era especialista – e uma que outra exceção a confirmar a regra.
Espero que saiamos logo do século 20. Ele mata.
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