O maior problema da democracia representativa é que as pessoas que querem ser governantes são sempre as piores opções de governante possíveis. Há dois tipos básicos de pessoas com esta estranha ambição, e ambas são mau negócio para os governados: o orgulhoso que crê merecer ser o governante por considerar-se melhor que os outros, e o ideólogo que crê estar fazendo um sacrifício para dar à população em geral o grande bem da transformação na marra da realidade na sua utopia.
Os pré-candidatos americanos que vieram de fora das respectivas máquinas partidárias são perfeitos exemplos dos tipos acima. Trump é o orgulhoso, que pinta a cara de cor-de-abóbora e gasta horas e muito laquê para transformar o cabelo numa espécie amarelada de ave-do-paraíso, e sinceramente acredita nos bajuladores que dizem que ele está bronzeado e bem penteado. Sanders é o ideólogo, que nunca teve sucesso no mundo real, mas tem certeza de saber o que é melhor para o povo. Uma espécie de Eduardo Suplicy pobre.
Nenhum dos dois é burro, e nenhum dos dois é malvado. Ambos, contudo, são perigosíssimos
Nenhum dos dois é burro, e nenhum dos dois é malvado. Ambos, contudo, são perigosíssimos para a população americana e – devido à situação ímpar daquela superpotência – do resto do mundo. Ambos se opõem publicamente a grande parte das guerras de agressão encetadas pelos EUA neste século, ainda que Trump tenha uma postura mais belicista e agressiva que Sanders. Na prática, todavia, a diferença seria pouca, pois a política exterior americana independe em grande medida da posição pessoal do presidente e nenhum dos dois conhece suficientemente bem a máquina governamental para conseguir agir com eficácia sobre ela. As chances de qualquer um dos dois efetivamente interromper a caotização do mundo ora sendo causada pelos EUA é ínfima.
Dentro do quadro de aumento do poder e da ação internos do governo americano, as diferenças são maiores. Ninguém sabe o que Trump quer, nem ele mesmo. O que ele diz em campanha é fruto de pesquisas de ibope e de seu excelente faro comercial, não de convicções arraigadas. Sua única certeza é de que ele é um predestinado, muito superior à média. Uma vez instalado na Casa Branca, é provável que suas opiniões mudem de novo, por não mais precisar dos eleitores. Já o que Sanders quer é claro: ele é um social-democrata, que na Europa ou no Brasil seria considerado de centro-direita, mas que nos EUA é praticamente um comunista. Algo entre os militares brasileiros e FHC, pendendo mais para aqueles no seu culto da estatização e das grandes ações governamentais.
Qualquer um dos dois levaria a um aumento tremendo do controle estatal sobre os cidadãos; a diferença seriam as desculpas empregadas. Para Trump, a segurança nacional; para Sanders, o combate às desigualdades.
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