Na Inglaterra, multidões de jovens estão incendiando carros, atacando passantes e quebrando lojas. O mesmo já ocorreu na França, várias vezes, e tem acontecido com frequência alarmante nos Estados Unidos.Isso é um sintoma de uma insatisfação profunda dos jovens em relação ao que a sociedade lhes oferece. Nesses países, ninguém passa fome. Ninguém dorme nas ruas, a não ser por escolha. Ninguém, em suma, é desassistido pelo Estado. Por outro lado e é isso que pode levar ao desespero ninguém é completamente responsável por seus atos, ninguém tem uma visão clara de quem é. As identidades construídas artificialmente substituem um senso real de participação na sociedade, e quem não se encaixa em algum clichê pronto muçulmano radical, clubber, hooligan, roqueiro, etc. não sabe, na verdade, quem realmente é.
Essa incerteza, que decorre de uma negação radical da natureza humana, leva à sua substituição por identidades construídas; afinal, ninguém consegue viver sem saber quem é. Sabe-se que se tem direito ao seguro-desemprego, que as necessidades físicas estão garantidas. Mas e as necessidades sociais? E a necessidade de participar do tecido social?
Aristóteles dizia que o homem é um animal naturalmente social. Quando se nega que haja a natureza humana, não adianta tentar "construir cidadania" a partir de identidades construídas: elas dividem, elas impedem a criação dos laços que perfazem a sociedade como um todo.
As megalópoles ajudam a piorar esse quadro, ao dar a cada habitante a possibilidade de nunca passar de um diálogo perfunctório e objetivo com pessoas que não sejam da mesma "tribo". É comum que todos os amigos de um advogado sejam advogados, de um publicitário, publicitários, de um roqueiro, roqueiros. O mundo passa a ser habitado apenas por pessoas iguais, com apenas alguns figurantes trabalhando no caixa do mercado ou servindo à mesa do restaurante.
Se, contudo, o meio em que vive alguém é um meio que não tem nenhuma inserção social real, em que todos vivem de seguro-desemprego, em que ninguém tem nenhuma perspectiva de um dia construir algo, o que se tem é um barril de pólvora. Ninguém ali está com fome, ninguém ali tem dentes podres ou vive debaixo da ponte, mas ninguém ali faz realmente parte do tecido social. Ninguém tem razão para tentar se tornar uma pessoa melhor. Ninguém se vê como parte de algo maior, que a todos inclui.
Não permitamos que isso ocorra por aqui.