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Carlos Ramalhete

Vetores do mundo real

Quando eu era um menininho de escola e aprendi física, fiquei fascinado com os vetores, aquelas setinhas que vêm de um lado e de outro e acabam indo para uma terceira direção. É um fascínio que ainda não passou, e pelo andar da carruagem acho improvável que venha um dia a passar. Afinal, quanto mais vivemos, mais vemos o quanto a vida é feita de vetores. Há quem chame a este processo “dialética”, o que a meu ver é um erro; raras são as ocasiões em que é apenas uma dialética de dois, não uma trialética, tetralética, ou qualquer outra dessas poliléticas da vida real.

O caso mais comum e inescapável de real dialética, de presença incontestável (por pessoas mentalmente sadias, por favor) de dois vetores que geram uma força em uma outra direção, é a colaboração entre homens e mulheres. Não é uma guerra dos sexos, porque os vetores não são opostos. Ao contrário, cada um deles desvia o movimento do outro rumo a um centro que, na verdade, é aonde ambos queriam ir.

Nós, homens, precisamos delas para sobreviver e prosperar

O homem tende a desviar-se, a arriscar-se, a tentar conquistar e descobrir novidades; a mulher, por seu lado, tem a missão civilizatória de evitar tudo isso. O pai desafia o filho a trepar ao galho mais alto da árvore, enquanto a mãe tem medo de que ele caia. Um pai sem a mãe criaria um selvagem autodestrutivo, e uma mãe sem o pai um serzinho com medo da própria sombra e incapaz de arriscar-se.

A civilização é, em enorme medida, fruto do vetor feminino de preservação do que foi conquistado. O homem sai e traz à caverna um porco do mato, um gambá e uma cobra, e é a mulher quem o civiliza, dando-lhe doravante a missão de evitar os gambás e cobras e trazer mais e mais porcos do mato. Juntos, eles chegam à brilhante ideia de fazer um cercadinho e nele prender um casal de porcos do mato, para que tenham filhotes e não seja necessário caçá-los no meio do mato.

Na mão inversa, foi certamente um homem que agarrou pelo braço uma pobre mulher e a instalou, contra a vontade dela, numa choça de folhas de bananeira. A caverna era tão mais prática, sempre seca e agradável! Mas foi indubitavelmente a mulher que fez da choça uma cabana melhor que a caverna, e aos poucos, ajudada pelas amigas, criou a primeira aldeia, convenceu os homens a fazer uma paliçada em torno dela para manter as onças à distância e as crianças e animais domésticos por perto, em segurança.

E assim saímos da caverna e chegamos à cidade; foram as mulheres que fizeram com que a expectativa de vida passasse dos trinta aos setenta anos, pois é delas o vetor do cuidado. Nós, homens, precisamos delas para sobreviver e prosperar, não só para nos reproduzir. Sem elas, não seria possível haver nem um princípio de civilização.

Não há como não gostar de mulher.

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