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Dom Moacyr José Vitti

A alegria da volta

O evangelho de hoje descreve a parábola do filho pródigo que volta para o seu pai, o qual o acolhe com uma alegria do tamanho do seu amor, pois seu filho estava morto e voltou à vida, "estava perdido e foi encontrado". Assim, a palavra de hoje é uma grande exortação para que o pecador volte á alegria que Deus lhe destina. Basta que se entregue a Cristo, admitindo, no seu coração, que a morte de Jesus por amor nos reconciliou e que a vida dele nos indica o rumo a seguir.

Por que não dar ouvido a essa exortação? Aquele que vive estraçalhado por desejos egoístas, contraditórios e insaturáveis, por que não volta a viver a benfazeja doação de vida, a exemplo de Jesus? O que sente remorsos por estar injustiçado seus semelhantes, porque não repara a sua injustiça para encontrar a paz? Quem se deixou seduzir pelas drogas, consciente de estar num beco sem saída, por que não imita o exemplo do filho pródigo? Aquele que sabe que sua riqueza causa a pobreza de muitos, por que não se esforça para, em espírito de comunidade, criar estruturas de participação? Se Jesus contou a parábola que hoje é apresentada, é porque sua missão serve para instaurar essa relação nova entre Deus e os homens.

A fé, a união com Cristo implica uma nova relação com Deus, o encontro do arrependimento do pecador com a misericórdia de Deus, ao qual dizemos: "Volta-te para nós, para que voltemos a ti!" Pois o Pai misericordioso já estava voltado para ele antes que ele voltasse... Basta aderir radicalmente a Cristo, na comunhão de sua Igreja, para encontrar o caminho da reconciliação, a alegria da volta, a Terra Prometida.

A Igreja recebeu de Cristo um sinal para marcar sua garantia essa reconciliação: o sacramento da penitência ou da volta. Quem sinceramente se confessa, pode estar seguro de sua reconciliação com Deus. Este sacramento encontra muita resistência porque ninguém gosta de se sentir julgado. Mas o evangelho de hoje mostra exatamente que Deus não quer julgar o pecador, quer simplesmente apertá-lo nos seus braços.

A confissão deve ser apresentada não como julgamento, mas como acolhida. O que importa não é o passado, a lista de pecados a apresentar, e sim, o futuro: o abraço acolhedor do Pai. Para muita gente, o que Jesus conta no evangelho parece fácil demais. O filho pródigo, "esse sem vergonha", esbanja tudo, depois volta para casa, Deus perdoa e tudo está bem de novo. É fácil demais e, além disso, injusto para quem acha que fez tudo direitinho e não ganhou nada por isso. Ora, quem fala assim não entende nada de Deus. Deus não é um fiscal. É um criador. Ele criou sem estar devendo nada a ninguém.

Ele também não fica devendo ao pecado que nós fazemos, quando decide recriar-nos. Basta que o deixemos fazer. Esse "deixar Deus fazer" é exatamente, a conversão. E é exatamente o que o filho mais velho não faz. Não dá a Deus a alegria de fazer nova criação. A conversão de um pecador é difícil. Exige que queira sair "da sua". Mais difícil, porém, é a conversão de quem se considera justo. Será então melhor ser pecador? Eu até diria que sim, num certo sentido: é menos perigoso ser autêntico na desobediência e no egoísmo do que, por medo ou por implícito cálculo de compensação, escolher o que se tem dentro e ficar endurecido pelo fato de agir sem convicção, sem ânimo.

Dom Moacyr José Vitti CSS, arcebispo metropolitano

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