Em nossa sociedade, a família é um emaranhado de problemas: falta de habitação e orçamento, dificuldades internas. A própria estrutura familiar tornou-se problemática. Muitos não vêem sentido na estrutura familiar. As famílias se desfazem com facilidade. Em breve a família poderá deixar de ser um problema, porque não existirá... A festa de hoje nos convida a refletir sobre a família à luz do Natal, tomando como ponto de referência a família na qual nasceu Jesus. A primeira leitura da Bíblia, hoje, oferece conselhos para a vida familiar.
O sábio judeu troca em miúdos o mandamento de "honrar pai e mãe". São Paulo descreve a paz e união que o amor em Cristo estabelece entre os fiéis, e aplica isso à vida familiar. Na família deve reinar esse amor que é o de Cristo, em toda direção: esposa-marido e vice-versa, filhos- pais e vice versa. Mais ainda, o evangelho nos leva a valorizar a família, ao narrar à migração da família de Nazaré. Era uma família migrante, em conseqüência das ambições dos poderosos: o recenseamento ordenado pelo imperador romano e a perseguição deflagada por Herodes, o Grande, que tinha medo de uma criancinha, porque poderia colocá-lo na sombra.
Mas José cuida de oferecer sempre um lar a Jesus. Foge ao Egito, para depois voltar a Nazaré. Até nisto, Jesus cumpre as "escrituras", pois o profeta Oséias 11,1, diz que Deus chama "seu filho" do Egito. Jesus se identifica com o antigo povo migrante, que volta da terra do Egito para a terra que Deus lhe quer dar. Jesus se identifica também com as famílias migrantes de hoje, oprimidas, expulsas, acampadas, faveladas, quase sem condições de vida familiar, em consequência da cobiça dos que querem tudo para si.
Também para essas famílias vale a boa-nova: a solidariedade de Cristo e a santificação da família como missão da Igreja. Daí as exigências que se fazem à sociedade: empenho por uma dignidade e estabilidade mínima no lar. A Sagrada Família, migrando de um lugar para outro, reclama uma "Nazaré para todos". Também gente pobre é "gente de família" Exigências também por parte do indivíduo: amor, carinho, respeito enquanto membro da família. Desenha-se assim, a missão da família: ser uma célula de vida e amor, mas também assumir sua responsabilidade na luta para que isso seja materialmente possível.
À sociedade como tal e a todos os seus membros cabe respeitar e proteger a estabilidade e dignidade da família ajudá-la a realizar a sua vocação e a encontrar moradia e trabalho, a educar os filhos e cuidar dos pais idosos, numa palavra, a cumprir a sua missão. Só no quadro de uma sociedade que seja justa para com a família, uma sociedade que repare o tecido social defeito, pode-se pensar em reencontrar o sentido da família, para o bem de todos.
Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura