Por que a CNBB escolheu este tema para a 44.ª Assembléia?
O futuro da sociedade e da Igreja depende da capacidade de escutar o que acontece no mundo jovem, de respeitar a sensibilidade própria do jovem, que vive o momento presente, de encontrar novas soluções práticas e de pressentir novos rumos. Trata-se de aprender do jovem e deixar-se evangelizar por ele. No jovem não há, apenas, contravalores! Ao contrário, há valores novos, que, em geral, só o jovem é capaz de criar e desenvolver. O jovem é garantia da juventude da Igreja. À medida que os jovens assumam hoje seu papel na história, tornam-se esperança de um mundo novo. Os jovens são as grandes vítimas de uma estrutura social injusta: jovem mão-de-obra barata; repressão por parte da sociedade; não participação do jovem nos processos decisórios da sociedade e da Igreja; falta de canais especializados de participação; impossibilidade dos jovens, na sua maioria, poderem viver a própria juventude; frustração por falta de condições de estudar e trabalhar, levando a fugas; avanço do espírito consumista, que tem a juventude como alvo preferido; tipo de educação vigente que incentiva o individualismo e a competitividade; peso de ideologias que não respeitam os valores de uma sociedade justa e fraterna; ausência de jovens na vida eclesial; desemprego e prostituição avassaladores; êxodo rural de jovens; contravalores enaltecidos pelos meios de comunicação social.
A maior parte dos "criminosos" abatidos pelos "esquadrões da morte" ou amontoados nas cadeias são jovens impedidos de abraçarem os verdadeiros valores humanos por causa de uma vida desumana. Se observamos a situação social, verificamos que, ao lado daqueles que, por sua condição econômica se desenvolvem normalmente, há muitos jovens indígenas, camponeses, mineiros, pescadores e operários que, por sua pobreza, se vêem obrigados a trabalhar como adultos.
A concentração da terra e dos meios de produção condena um grupo sempre mais numeroso de jovens ao desemprego na cidade, ou à sobrevivência no campo como assalariados rurais, posseiros, bóia-frias, meeiros, ou submetidos à escravidão branca.
Nestas condições, inúmeros jovens cedem ao desespero e entregam-se ao jogo, álcool, drogas e outros vícios. Sendo a família o primeiro lugar de socialização de ser humano, ela é condição e referencial para a formação do jovem e sua crise afeta, sobretudo, o próprio jovem. Sem dúvida, a família é a instituição mais duramente atingida por esse processo de transformação. Difundem-se rapidamente novos padrões de relacionamento entre os sexos, padrões que prescindem do vínculo sacramental e recusam aceitar suas exigências de doação mútua e total, de unicidade e indissolubilidade.
A perniciosa difusão de um inaceitável controle da natalidade, o consumo de anticoncepcionais e a exacerbação do erotismo pela pornografia mercenária dos meios de comunicação, pervertem o comportamento sexual dos jovens e os indispõem a assumir a responsabilidade pela realização da beleza do ideal cristão da família. Há também o desafio daqueles jovens, nascidos em ambiente de conforto, mergulhados no consumismo e no vazio de uma sociedade que não lhes oferece uma perspectiva mais profunda.
São jovens que, apesar de privilegiados por melhor ensino e nível mais alto de vida, por vezes cedem à procura desenfreada de uma ascensão social individualista, conseqüência de uma sociedade baseada no lucro e na competição. Outras vezes passam para a droga, a promiscuidade e o alcoolismo, ou refugiam-se também em grupos esotéricos ou ideologias manipuladoras. Há uma massa impressionante de jovens, desfigurados e violentados em sua dignidade, que clama à consciência de todos e exige conversão radical de corações e estruturas. Por isso, fiel à missão evangelizadora, através da Pastoral da Juventude, a Igreja apoiará os jovens principalmente das bases populares, a tomarem consciência de que são marginalizados por estruturas sociais desagregadoras. A esse respeito, vale lembrar o apelo de João Paulo II: "Que os jovens não se deixem instrumentalizar, ao contrário, cresçam no seu compromisso de fé".
Os documentos de Medellín e Puebla apontam os jovens como agentes importantes na transformação da sociedade e renovação da Igreja, porque suas vidas moldam a face do mundo de hoje e de amanhã. "Nenhuma instituição ou governo pode ignorar as aspirações da juventude por um mundo de justiça e oportunidade, ou deixar de escutar o que estão dizendo" (J. Pérez de Cuellar, ex secretário-geral das Nações Unidas). Por essa razão, todo o esforço para formar uma juventude sadia corresponde à revitalização permanente do corpo social. O dinamismo dos jovens, seu espírito de aventura, sua abertura aos valores da liberdade, justiça, fraternidade, paz, e sua denúncia profética das situações de injustiça, anunciam o mundo sonhado por Deus.
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