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No dia 2 celebramos o Dia de Finados.

Hoje o Evangelho nos apresenta Jesus em discussão com diversas facções do judaísmo sobre a ressurreição

Os saduceus conservam os costumes antigos, prescritos pelo Pentateuco. Rejeitam, porém, como inovação a fé na ressurreição. Procuram mostrar a Jesus que sua doutrina da ressurreição entra em choque com a antiga lei: quando alguém morre sem deixar prole, seu irmão deve suscitar descendência, tomando sua mulher. Jesus responde: a ressurreição é uma realidade completamente nova, não mais regida pelas leis da sociedade ou da biologia. E apresenta uma prova, Tirada da Torá, para mostrar que a vida eterna é a melhor que combina com Deus, pois Ele é o Deus de Abraão, Isaac e Jacó, portanto, dos vivos, não dos mortos. O homem se torna um ser diferente, imortal, igual aos anjos. Mas como será então? Ninguém pode saber, continuará sendo uma surpresa para todos, conhecida exclusivamente por Deus.

Vamos dar um exemplo: antes de nascer, o homem se desenvolve durante nove meses no ventre de sua mãe. Suponhamos que ele esteja em condições de ver e entender onde se encontra e que alguém lhe diga que um dia ele está destinado a começar uma vida completamente nova. Esta criança com certeza não pode imaginar que, no mundo que a espera, haja homens e mulheres, que as pessoas se casem, que existam o Sol, as estrelas, os rios, os campos, as casas. Pois bem, neste mundo nós somos como crianças no ventre da mãe, estamos em gestação, aguardamos com alegre confiança que chegue para nós o momento do nascimento, o dia em que seremos iguais aos anjos. Como será nossa vida com Deus? Não sabemos e a nossa mente limitada não consegue entender.

Os que tentaram descrevê-la só provocaram sorrisos. Apenas acabaram apresentando-a como um aperfeiçoamento da vida atual. O paraíso não é uma casa que devemos comprar e da qual devemos saber antecipadamente quantos quartos possui, se tem luz, água, ar-condicionado, se tem jardim com árvores frutíferas. É com a vida deste mundo que nos devemos preocupar. A outra, devemos aguardá-la como um dom maravilhoso que o Pai reserva para todos os seus filhos. Perguntamo-nos porque os descrentes, às vezes, zombam de nós. Pode ser porque não entenderam nada da nossa fé, mas outras vezes pode ser porque as explicações que nós lhe damos são ridículas. Como não zombar de quem, convencido de que sabe tudo claramente sobre os mistérios da vida de Deus, quer impor com arrogância suas idéias aos outros? Como não zombar de quem pensa que pode sondar com precisão os mistérios de Deus e exige que os outros aprendam de cor as fórmulas que ele inventou? Como não sorrir com desdém daquele que pretende definir com segurança como se realiza a justiça de Deus e como e por que alguém merece o céu e o outro o inferno?

O sorriso de desdém dos " saduceus" de nossos dias nos deveria fazer pensar, deveria eliminar o orgulho de quem se considera um mestre em tudo, deveria tornar mais humildes e mais atentos os que falam daquilo que só Deus conhece. Eu penso que muitos cristãos dos nossos dias ainda imaginam a "ressurreição dos mortos" como os fariseus do tempo de Cristo ou até mesmo como os pagãos. Por exemplo, terão entendido qual é o destino do homem depois da morte os que continuam tendo medo dos defuntos, os que pensam que eles podem provocar desgraças, doenças, castigar os vivos? Quem já se encontrou com Deus, quem já foi purificado de todos os seus pecados, quem já entrou na nova e maravilhosa vida do céu, poderá causar mal a alguém? Não só alguns, mas todos vivem, afirma Jesus no Evangelho de hoje. A fé na ressurreição modifica todo o nosso modo de considerar a existência do homem.

Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.

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