Somos uma Igreja no mundo e para o mundo pelo mandato do próprio Senhor a anunciar e fazer discípulos seus (Mt 28,18ss), conscientes de que "as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e mulheres de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, mais particularmente, do povo latino-americano e caribenho, continuem sendo as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo" (GS n. 1). Em nossa realidade trata-se de seguir Jesus Cristo, num continente marcado pelo contraste entre muitos valores que caracterizam o povo latino-americano e caribenho, tais como a religiosidade, a capacidade de partilha, a alegria, a resistência, a esperança, a solidariedade e, infelizmente, a extrema pobreza em que vive a maioria da população nos diversos países. No campo social, verifica-se o crescimento da desigualdade social e o número dos marginalizados preocupam; nota-se o fechamento das pessoas no seu eu e o esquecimento de sua natureza relacional; o individualismo, levado às últimas conseqüências, desumaniza, gera drogados, menores de rua, doentes mentais, mendigos, famílias desorientadas, etc.
No plano econômico, se supervaloriza o crescimento da produção em detrimento do crescimento humano. Cresce a busca pela eficiência e o lucro, ferindo a dignidade humana. Os interesses socioeconômicos levam à concentração de poder nas mãos dos que têm o controle tecnológico e o arsenal bélico, provocando o desemprego estrutural. A causa da injustiça social é a má distribuição da renda, que gera uma ordem econômica mundial perversa, aprofundando sempre mais o abismo entre ricos e pobres. Economicamente não existe mais soberania absoluta: o capital especulativo invade a economia dos países mais frágeis, com cerca de 13 trilhões de dólares em giro permanente.
A Amazônia, por exemplo, pela biopirataria, está na mira de uma internacionalização. No campo político, durante a campanha eleitoral, dada a falta de consciência e de conhecimento dos direitos civis, os candidatos manipulam e defraudam a esperança do povo. Os pobres são usados como produto descartável. As maiores distorções e sofrimentos, em nossos países, se manifestam: na ignorância política do nosso povo; na falta de opções frente as eleições; na corrupção eleitoral; no sofrimento e a humilhação daqueles que dependem da previdência social e da saúde pública; no baixo investimento feito em educação; na morosidade da Justiça; na falta de segurança pública, na má e distorcida qualidade dos meios de comunicação; má distribuição de renda; no narcotráfico e o alcoolismo. No campo religioso, apresentam-se ofertas religiosas de toda índole, que prometem felicidade fictícia e mágica, baseada na prosperidade material, na saúde física e psíquica, sem o compromisso com uma ação processual e transformadora. São características da religiosidade atual: o fundamentalismo, o apego a ritos e fórmulas, assim como um sentimento light, que se expressa em sincretismos imanentistas, resultado da busca de felicidade imediata. Diante disso, não podemos perder de vista o valor e a proposta do Evangelho, colocando-o a serviço da vida. É nele que aos desprovidos do elementar para viver encontrarão uma resposta não enganadora e eficaz.