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Dom Moacyr Vitti

A responsabilidade política

A atividade política, por sua própria natureza, é de índole contingente. Sua interpretação adequada não é fácil devido que sempre é preciso levar em conta os contextos em que se desenvolve, as idéias que a impulsionam e a frágil condição humana de todos os atores que participam dela. Muitas coisas que adquirem grande relevância numa determinada situação conjuntural costumam perdê-la quando o mesmo fenômeno é analisado numa perspectiva que busque ultrapassar os fragmentos e alcançar uma compreensão maior. Mesmo assim, realidades apenas perceptíveis no interior de acontecimentos pontuais adquirem grande importância depois que um olhar mais profundo as analisa de um ponto de vista diferente, mais permanente e universal.

A fé cristã certamente não pode permanecer indiferente diante dos múltiplos e complexos desafios sociais e políticos que a realidade continuamente propõe. No entanto, é preciso recordar de quando em vez que a fé não se identifica univocamente com certo tipo de ação política (por boa e acertada que possa parecer a alguém). Mesmo no caso de uma ação ou de um programa político que, por seu conteúdo, possam se encontrar mais ou menos próximos de certos valores evangélicos, é preciso afirmar que a fé em Cristo os transcende.

O cristianismo, embora possa e deva inspirar os fiéis leigos construtores das novas sociedades que todos desejamos, oferece uma vida irredutível a qualquer modo de organização puramente humana. Entendendo plenamente a liberdade que deve caracterizar as opções políticas que de maneira individual ou coletiva os leigos realizam, a fidelidade ao Evangelho nos obriga a todos (fiéis-leigos, consagrados, sacerdotes, bispos) a promover ativamente os valores do Reino.

A opção preferencial pelos pobres, nesse sentido, não pode ser omitida. Não podemos ignorar que a mudança cultural compartilha, às vezes, atitudes, compromissos e dinâmicas sociais que se caracterizam por sua incapacidade de ler as obrigações que brotam da dignidade das pessoas, especialmente daquelas que se encontram marginalizadas e excluídas do desenvolvimento.

O cristianismo, neste terreno. tem uma contribuição específica a oferecer. A novidade e a originalidade do amor e da responsabilidade cristãs introduzem um sentido de reconciliação e compromisso fraterno nas lutas pela justiça social, sem o qual facilmente se descamba para excessos contrários à justiça que precisamente se busca restaurar e promover. A intervenção da Igreja e dos cristãos como cristãos membros da Igreja, na política, se justifica sob duas rubricas que podem se fundir: a defesa dos direitos humanos, especialmente de todos os fracos e desamparados, e a questão social.

A prática de Jesus diante do poder político foi a de denunciar o caráter dominador do poderoso sobre o fraco, que contradiz a delegação do poder que, como todo poder, "vem de Deus". Isto supõe uma ética séria e fundamentada que estabeleça o acesso a todos os bens da criação como destino e caminho de toda ação política, uma preferência decidida pelos caminhos do diálogo e do acordo e não pelos da luta e confrontação. E um respeito profundo pela liberdade das crenças, fazendo do Estado um instrumento do bem comum.

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