Entre as pessoas excluídas da comunidade, no tempo de Jesus, havia, além dos leprosos, dos quais falamos no domingo passado, também os paralíticos. O fato de o doente, do qual nos fala o evangelho de hoje, não ter acesso à casa na qual estão reunidos os escribas e fariseus, sem dúvida representa a sua exclusão do povo de Deus, o seu afastamento da assembleia, na qual os pecadores não podiam ser admitidos. Era opinião geral, de fato, que o próprio Deus não quisesse imiscuir-se com tais pessoas, classificada como indignas. O paralítico representa a humanidade inteira, afastada de Deus e impossibilitada não só de conseguir a própria cura, mas até de aproximar-se daquele que pode proporcioná-la. Nessas condições, a salvação só pode vir por uma concessão gratuita, vinda do alto. A humanidade só pode mesmo apresentar a Jesus a própria enfermidade.
Não está em condições de manifestar um pedido de ajuda a quem tem o poder de salvá-la. Na narrativa encontramos dois grupos de pessoas: o primeiro é formado por aqueles que se apinharam ao redor de Jesus para ouvir. Entre esses há também alguns escribas: "sentados", no interior da casa, parados, autoconfiantes e apegados às suas ideias teológicas, absolutamente impassíveis e indiferentes às palavras do Mestre. Em contraposição a essas pessoas estáticas encontramos os quatro carregadores e o paralítico: estão do lado de fora da casa, inquietos, agitados porque precisam de ajuda, tentam fazer alguma coisa porque não podem adiar um encontro, que é decisivo para eles.
Há, porém, um obstáculo que impede este segundo grupo de entrar em contato com o Salvador: essa barreira é formada por aqueles que ocuparam todos os lugares ao redor de Jesus, que quase se assenhorearam dele, que talvez estejam convencidos de terem conseguido isolá-lo na redoma das pessoas "de bem", íntegras e inacessíveis por parte dos pecadores.
Estes "justos" instalados no interior da casa, estáticos, representam a instituição religiosa que demarca uma linha divisória intransponível entre santos e pecadores, linha de fronteira que Jesus rejeita. Por esta razão, Ele considera como demonstração de fé na sua pessoa o gesto de fazer estragos na casa com a descida do paralítico pelo telhado, onde estão instalados os escribas e os fariseus.
Jesus não aceita tornar-se prisioneiro de nenhuma instituição. Ninguém pode interpor-se entre Ele e aqueles que querem escutar a sua palavra, palavra que salva. Talvez existam também em nossos dias algum "escriba e fariseu" que, inconscientemente, impede aos "paralíticos" de se encontrarem com Cristo. Há pessoas que por causa das manifestações da censura, expostas por alguns cristãos, sentem-se inibidas de aproximar-se da nossa comunidade.
Não deverá ser modificada a maneira de pensar e agir daqueles que se acham justos e deste modo afastam de Cristo aqueles que precisam de salvação? Quais são as preocupações das nossas comunidades, nos dias de hoje? Dedicam-se somente a orações, a rituais, a cerimônias ou também se comprometem para que a palavra de salvação produza sinais concretos de um mundo, de uma sociedade de homens realmente novos?
Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.
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