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Todos os anos, no segundo domingo da Quaresma, a liturgia da palavra nos apresentam o tema da Transfiguração de Jesus. A narrativa começa dizendo que Jesus se retirou para um monte muito alto, num lugar solitário, com três dos seus discípulos. A tradição cristã, localizou a transfiguração de Jesus no Tabor, uma linda montanha, coberta de pinheiros, de carvalhos e de terebintos, isolada, no centro de uma grande planície em Israel. Consta que no seu cume, desde tempos imemoriáveis, havia um altar onde eram oferecidos sacrifícios às divindades pagãs. Hoje, o lugar convida para o recolhimento, para a meditação e para a oração. Os peregrinos que o visitam sentem-se naturalmente impelidos a elevar seus olhares para o céu e a pensar em Deus. Na montanha a Bíblia situa os grandes encontros com Deus, as grandes manifestações do Senhor aos homens.

Moisés e Elias, os mesmos personagens que encontramos no evangelho de hoje, receberam a revelação do Senhor na montanha. Mais do que um lugar físico, a montanha indica o momento da intimidade com Deus. Também Jesus abandona a planície onde vivem os homens, onde se age segundo uma lógica e segundo os princípios que não são os de Deus e conduz alguns discípulos para o mundo do Pai. Ele os introduz nos seus pensamentos mais secretos, quer que penetrem nos insondáveis desígnios de Deus sobre o Messias. A narrativa da transfiguração encontra-se exatamente no centro do Evangelho de Marcos. Desde o começo os discípulos se perguntavam quem é Jesus. Em dado momento começaram a perceber que Ele era o Messias.

Têm, porém, ideias muito vagas a respeito. Eles têm a mesma opinião do povo da sua terra e, como todos, esperam um rei glorioso, vencedor, rico e poderoso, capaz de transformar rapidamente as condições dos homens e de instaurar milagrosamente o Reino de Deus na Terra. Essa ideia errônea evidencia-se das palavras de Pedro que quer construir as três tendas: tem certeza de que o tempo do reino chegou e que não é preciso passar através da morte e do dom de si.

A mensagem central da narrativa encontra-se exatamente neste patamar: para instaurar o Reino que Jesus, durante a transfiguração, deixa entrever aos seus discípulos, é necessário passar através do sacrifício da própria vida. Não é possível entrar no Reino de Deus por atalhos, como Pedro tenta fazer. É necessário que todos os discípulos sigam com coragem o percurso trilhado pelo Mestre. os discípulos foram descobrindo devagar, com dificuldade e de forma progressiva, esse aspecto sofredor do Messias.

Ainda mais: mesmo depois de todos os ensinamentos e de todas as explicações do Mestre, nunca teriam conseguido entender o projeto de Deus, sem a luz da Páscoa, sem a experiência do Ressuscitado. Hoje, também nós, estamos sujeitos a ceder às falsas expectativas de Pedro. Podemos deixar-nos iludir que a passagem deste mundo, no qual passamos por tantas dores, por tantas contrariedades, por tantas injustiças, para a felicidade do mundo que está por vir, possa acontecer sem contrariedades e sem o sacrifício e o dom da própria vida. Não há, ao invés, outro caminho que o de Cristo, aquele que chega à ressurreição, passando pelo caminho da cruz.

Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.

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