No Evangelho de hoje, Jesus nos conta a parábola da semente. A técnica de semeadura desse agricultor é decididamente estranha. Desde quando os agricultores lançam a preciosa semente pelas estradas, sobre as pedras ou entre os espinheiros? Os lavradores são pessoas ponderadas e não fazem as coisas absurdas.
Mas no tempo de Jesus estas coisas aconteciam porque a semeadura não era feita depois que a lavoura estivesse preparada, mas antes. O agricultor não começava lavrando, carpindo ou arrancando as ervas daninhas, mas antes semeava e somente depois passava o arado. Dessa maneira dá para entender que uma parte da semente podia cair entre as pedras, na grama, entre os espinheiros ou naqueles pequenos trilhos que se formam nas lavouras, quando são usados durante o trabalho da colheita ou nos períodos em que ficam sem cultivo.
Jesus convida então os seus ouvintes a observar o agricultor que semeia. Quem o observa pode imaginar que esteja trabalhando em vão, que desperdice as sementes e as energias. É difícil acreditar que numa gleba em situação semelhante possa crescer alguma coisa. Mas logo depois da semeadura, o agricultor passa o arado; os trilhos desaparecem, os espinheiros e as ervas daninhas são arrancados, as pedras são removidas e o campo que parecia improdutivo, depois de pouco tempo cobre-se antes de hastes de trigo, depois de louras espigas. Um verdadeiro milagre!
Jesus narra essa parábola num momento difícil de sua vida: foi expulso de Nazaré, em Cafarnaum foi tomado por louco, os fariseus querem matá-lo, os discípulos o abandonam. Parece que toda a sua pregação foi em vão; as condições são por demais desfavoráveis, a sua palavra parece mesmo destinada a perecer.
Através dessa parábola Jesus queria dar uma resposta aos discípulos desanimados, que lhe perguntavam a respeito da utilidade do trabalho apostólico que Ele estava desenvolvendo. Não obstante todas as contradições e obstáculos, a sua palavra daria frutos abundantes, porque tem em si uma força de vida irresistível. Contrariando todas as expectativas, a vinda do Messias não foi assombrosa, não teve grande repercussão.
A sua passagem por este mundo teve a aparência das mais insignificantes: nada mudou na vida social e política do seu povo. Muito mais famoso do que Ele foi João Batista. Jesus desapareceu na terra como uma pequena semente, fraca, insignificante, quase invisível. Pouco tempo depois, porém, de forma lenta e progressiva, essa semente começou a germinar. O seu Evangelho começou a fazer fermentar a humanidade inteira e hoje nós podemos confirmar que a mensagem da parábola do semeador está se cumprindo.
Todos nós nos questionamos, ao menos alguma vez: compensa anunciar a palavra de Deus numa sociedade e num mundo corrompidos como esse em que vivemos? Para que falar a pessoas que não escutam, que têm o coração empedernido, que só pensam no dinheiro, nas diversões, nas futilidades, nos prazeres? Não estamos trabalhando inutilmente? Quando nos ocorrerem esses pensamentos, lembremo-nos da força que tem em si mesma a palavra do Evangelho: é como um grão de trigo.
Dom Moacyr José Vitti, arcebispo metropolitano de Curitiba.
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