No Evangelho de hoje Jesus narra a seguinte parábola: um administrador é denunciado junto ao patrão como incompetente, porque dissipa os seus bens. O patrão o manda vir à sua presença, conta-lhe o que ouviu a seu respeito, não espera qualquer explicação ou justificativa da sua administração e o manda embora naquela mesma hora. O administrador se dá conta de que não tem saída: vai ficar sem salário e deve pensar no seu futuro. O que fazer? O administrador desonesto é esperto e sabe que todo o seu futuro está em jogo. Como o latifundiário insensato, pensa seriamente sobre si mesmo, avalia os prós e os contras, sabe que antes de ir embora definitivamente deve fechar as contas com o seu patrão, sabe que os produtos que devem entrar são muitos e os devedores também.

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Ocorre-lhe uma ideia genial: convoca todos os devedores e pergunta ao primeiro: "Quanto deves ao meu senhor"? Cem barris de azeite", responde ele. O administrador, então dá um largo sorriso, dá-lhes umas palmadinhas nas costas e lhe diz: " Rasga o teu recebido, senta-te depressa e escreve logo cinquenta".

A dívida totalizava 3.650 litros de azeite, e ficou reduzida a 1.825 litros; uma economia correspondente a um ano de salário. Apa­­rece, depois, o segundo devedor: deve cem medidas de trigo ( 27,5 toneladas: o produto de 42 hectares de terra!). A cena se repete: convida-o a sentar-se, presta contas, e a dívida fica reduzida a 80 medidas: 5,5 toneladas a menos. No futuro, esses devedores favorecidos não se esquecerão da sua generosidade e, com certeza, sentir-se-ão na obrigação de dar-lhe acolhida na sua casa.

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Também o patrão e o próprio Jesus, ao concluir a narrativa, não podem deixar de elogiá-lo. "Foi astuto!". Deve ser imitado! Tería­­mos esperado uma conclusão diferente. Jesus deveria ter dito aos seus discípulos: "Não façais como este espertalhão, sede honestos".Mas, ao invés, aprova essa atitude. Aqui está o problema: como é possível propor como modelo uma pessoa desonesta? A explicação é a seguinte: os administradores deviam entregar ao empresário uma determinada quantia; o que conseguissem a mais ficava com eles. Era assim que os publicanos enriqueciam com a cobrança de impostos.

O que fez o administrador da parábola? Em vez de se transformar em agiota dos devedores, renunciou ao lhe cabia nos negócios. neste contexto, tudo fica mais claro.Tanto a admiração do patrão como o elogio de Jesus tem uma explicação lógica. O administrador foi esperto – diz Jesus – porque percebeu qual era o objetivo final: entendeu que, no futuro, mais do que de dinheiro, precisaria de amigos. Renunciou ao dinheiro, para conquistar amigos. Toda questão está aqui.

É a frase mais importante do trecho de hoje; resume todo o ensinamento da parábola: "Granjeai amigos com a riqueza injusta, para que, no dia em que ela vos faltar, eles vos recebam nos tabernáculos esternos".

Dom Moacyr José Vitti, arcebispo metropolitano.

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