O trecho do evangelho de hoje, narra-se o chamado dos primeiros três apóstolos: André, um discípulo sem nome e Simão Pedro. Os fatos se desenrolaram da seguinte maneira: João estava batizando além do Rio Jordão e com ele estava um grupo de discípulos. Um dia, vendo Jesus que chegava, disse: "eis o Cordeiro de Deus". No dia seguinte, e é aqui que começa a passagem de hoje, João estava com dois de seus discípulos, viu Jesus que passava, olhou para ele e disse: "eis o Cordeiro de Deus" (Jo 1,29. 35-36). Ao ouvir essas palavras, os dois discípulos imediatamente o deixaram e seguiram o novo Mestre (Jo 3,29-30). Inicialmente observamos que, na primeira cena, enquanto o Batista permanece no mesmo lugar, Jesus já se pôs em movimento, já começou sua caminhada. João está parado porque já concluiu a sua missão; indicou aos homens o Messias, confiou-lhe os discípulos e aceitou desaparecer. Está consciente que é Jesus que deve "crescer" (Jo 3,29-30). As nossas comunidades devem comportar-se como o Batista: não podem procurar discípulos para si mesmos, a sua missão é indicar a todos os homens a pessoa de Jesus, o cordeiro de Deus.
Mas acontece, às vezes, que alguém usa o nome de Jesus para engrandecer-se a si mesmo, para competir com outras religiões, para mostrar a própria superioridade e quantidade numérica. Há nas nossas comunidades alguns que procuram ter muitos discípulos, isto é, muitas pessoas que aprovam suas ideias e projetos. Mas a quem devem seguir os homens: a nós ou a Cristo? O Batista chama Jesus de "Cordeiro de Deus". Essa expressão podem se referir ao cordeiro pascal, cujo sangue, sinalizando as portas, salvou os israelitas da morte ou pode fazer alusão ao Servo fiel ao Senhor, do qual se fala no livro de Isaías, servo que é comparado a um manso cordeiro, que se deixa conduzir à morte sem apresentar resistência (Is 53,7). As duas alusões podem ser aplicadas a Jesus.
Quem é Jesus para nós? O que percebemos dele, depois de tantos anos de doutrinação? As palavras de Jesus dirigidas aos dois discípulos que o seguem: "A quem procurais"? são as primeiras que Ele pronuncia no Evangelho de João. Evidentemente são dirigidas a cada discípulo que inicia a sua caminhada espiritual, depois que alguém lhe mostrou o novo Mestre. Os homens sentem necessidades de Jesus quando sente no coração uma profunda insatisfação pela própria vida passada e buscam outra resposta aos próprios problemas e ao próprio desejo de felicidade. Sentem a necessidade de Jesus quando os ídolos do dinheiro, do sexo e do poder os deixam desenganados.
Perguntemo-nos: o que eu procurava quando decidi ser cristão? Por que me senti atraído para seguir a Cristo? O que esperam dele hoje os que entram pela primeira vez, a fazer parte da nossa comunidade? Não haverá também alguém que procura Jesus por alguma coisa que ele nunca poderá dar? Chega-se a Jesus sempre através de algum intermediário. Os dois discípulos reconhecem nele o Mestre e o Messias porque o Batista o apontou para eles como o "Cordeiro de Deus". Pedro é conduzido a Jesus por seu irmão André. Natanael pôde encontrá-lo porque Felipe lhe falou dele. Quem descobre a pessoa de Jesus, quem percebe que Ele tem para todos uma palavra de esperança e de salvação, não pode guardar para si uma descoberta tão grande. Sente necessidade de anunciá-lo aos outros, para que também eles possam encontrar aquele que deu uma resposta às questões fundamentais da própria vida.
Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.
