"Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração."(Mt 6, 21)

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É impressionante o poder de mobilização que a Copa do Mundo exerce sobre as pessoas, em seus países, em suas culturas. E, mais especificamente, o poder que ela exerce sobre nós, brasileiros. Um olhar crítico sobre tudo o que cerca os preparativos e o desenvolvimento da Copa do Mundo, com seus entusiasmados torcedores e milhões de "técnicos", espalhados em cada canto do planeta, nos instiga pensar.

A Copa do Mundo é uma verdadeira "celebração" humana ao redor do futebol. Pessoas mobilizadas, jornalistas, torcedores, atletas e simpatizantes. Até mesmo os que "não entendem de futebol" ou "não gostam disso" acabam interagindo com o "espírito" da Copa, ao menos por amor às suas pátrias.

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Presenciando esta realidade, é difícil não imaginarmos como seria bom se a mesma mobilização acontecesse no Brasil para dar conta da saúde, da educação, da paz, da distribuição de renda, da reforma agrária... e para a superação da corrupção, do nepotismo, da crise na agricultura, da violência, do tráfico de drogas... Mas o que se vê, na imensa maioria das vezes, são formas de indiferença, por um lado, ou os "quebra-quebras" insanos e irresponsáveis, por outro. Que poder tem a Copa do Mundo para mobilizar as pessoas? Porque não se consegue o mesmo quanto à cidadania e à responsabilidade social?

Talvez todos já saibamos o que precisa ser feito, como o desenvolvimento da ética, da solidariedade, da sensibilidade à natureza, ao ser humano, da abertura ao Transcendente... Mas ainda falta algo, ao menos de forma suficiente e de modo geral. Algo que o envolvimento com a Copa do Mundo oferece, de alguma forma: o desejo, o querer, a vontade, em outras palavras, o coração, a paixão. Só lutamos e nos mobilizamos por aquilo que amamos. A Copa do Mundo está aí e nos ajuda a lembrar que o ser humano sente, chora, ri, tem esperança, sentimentos e amor à vida. Que é integral, e não uma máquina de pensar, votar ou agir, somente. Talvez a Copa do Mundo seja, nesta ocasião, um grande meio pedagógico.

Meio, sim, e não fim. Pois ela, por melhor que seja, passará, e, após o jogo final, o nosso dia-a-dia continuará o mesmo. Ao mesmo tempo em que a Copa do Mundo nos lembra que precisamos experimentar a vida e não somente passar por ela, é ocasião para tomarmos consciência de que o nosso verdadeiro tesouro, no qual empenhamos o melhor de nós, nossos sentimentos, nosso coração, não pode ser perecível, efêmero. É preciso algo que não nos traia a confiança, que não nos condicione e nos frustre no final, algo que dê sentido à existência e nos mobilize constantemente a favor da vida. Algo que nos lance sempre em direção à construção da vida de forma integral.

A solidariedade, a busca e conquistas de direitos, de igualdade e fraternidade deverão ser muito mais exercícios do coração, fruto do espírito humano, do que dos documentos. Paralelamente aos ensinamentos, normas e técnicas, é preciso, em outras palavras, redescobrir a espiritualidade como meio seguro de acesso ao tesouro maior, não perecível e infindável. Sim, o que de fato garante o equilíbrio do ser humano, o que o mobiliza a partir do coração de forma estável e constante é a saudável espiritualidade.

Com um olhar sóbrio, é possível ver que a "celebração" da Copa é modelo também para a nossa celebração da vida. É ocasião para repensar e buscar o que de fato nos envolve, mobiliza, faz sentir, experimentar a alegria de viver e de servir. Num mundo de propostas múltiplas e por vezes contraditórias, somente o que une os corações será capaz de mobilizar as pessoas em vista de objetivos comuns.

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