O evangelho de hoje nos apresenta uma pessoa que não tinha mais nada a perder senão a vida; e esta também já estava quase perdida, os "justos" já estavam com as pedras na mão para apedrejar. Ela tinha sido apanhada em adultério! Como ainda hoje entre nós, também na antiguidade judaica o homem podia ter suas aventuras, a mulher, porém, não. Os "justos" pedem a opinião de Jesus, tinha fama de liberal, e queriam apanhá-lo em contradição com a lei. Jesus escreve algo na areia; a acusação, a sentença? Não o sabemos. E responde: "Quem não tem culpa, lance a primeira pedra", e volta a escrever na areia.
Os "justos" vão embora, a começar pelos mais velhos. "Mulher, ninguém te condenou? Eu também não te condeno. Vai e não peques mais". O passado foi apagado, como as palavras na areia. Ela é a nova criatura: de pecadora tornou-se a que não peca mais. Se tivesse sido apedrejada, seria para sempre a pecadora apedrejada! Agora ela é a "não mais pecadora". Mas, para isso era preciso que seu pecado fosse apagado; e isso, só Deus o podia fazer. Deus é libertador. Ele quer apagar nosso passado e renovar nossa vida. Deus não é limitado que fique imobilizado por nosso pecado. Ele passa por cima, escreve-o na areia, como Jesus, no episódio da mulher adúltera. A magnanimidade de Deus, que se manifesta em Jesus, está em forte contraste com a mesquinhez dos justiceiros que queriam apedrejar a mulher. Estes, sim, estavam presos no seu pecado; por isso, nenhum deles ousou jogar a primeira pedra. Decerto, importa combater o pecado; mas é preciso estar com Deus para salvar o pecador. "Não peques mais".
Perdoar não é ser conivente com o pecado, mas é salvar o pecador, termo que não está na moda, hoje, mas é o que melhor exprime a realidade. Deus perdoa, para dar ao pecador uma "plataforma" a partir da qual possa iniciar uma vida nova... Ora, o perdão é do tamanho da grandeza de Deus; só Ele é grande que chega para perdoar definitivamente. Por isso, para fazer jus ao perdão, não devemos desejá-lo levianamente. Devemos querer eficazmente mudar a nossa vida.
Devemos desejar não mais pecar, e, para que este desejo seja eficaz, escolher e utilizar os meios adequados. Quem peca por má índole, procure amigos que o tornem melhor. Quem peca por fraqueza ou vício, evite as ocasiões de tentação. E quem peca por depender de uma estrutura ou laço que conduz à injustiça, procure transformar essa situação, no nível pessoal e no da coletividade.
Tratando-se de estruturas sociais injustas, o meio adequado de combater o pecado consiste em unir as forças para lutar pela transformação política e social. Devemos transformar as estruturas de pecado fora e dentro de nós. Mas faremos tudo isso com mais empenho se estivermos convencidos de que Deus nos perdoa e joga longe de si o nosso pecado. Quando se trata de problemas pessoais a certeza de que Deus é maior que o pecado é um estímulo forte para acreditar numa renovação de vida com a ajuda dos meios psicológicos adequados, pois a graça não suprime a natureza.
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