O cristianismo não é, antes de tudo, uma doutrina. Ele teve origem num acontecimento: a encarnação do Filho de Deus: "Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho ao mundo, o qual nasceu de uma mulher". Na encarnação do seu Filho, Deus de tal modo se aproximou do ser humano que Ele mesmo se tornou um ser humano. O cristianismo se iniciou nesse encontro. Esse encontro é a razão de nossa fé. A Igreja vive desse encontro. Ele revela quem nós somos, de onde viemos e para onde vamos. A missão da Igreja é levar a todos ao encontro de Jesus. Esse encontro, como mostra o episódio da Samaritana, de Zaqueu, leva a uma revisão de vida e à conversão. Esse encontro é a fonte do discipulado e da missão.
O Evangelho mostra que ser discípulo de Jesus é fruto de uma vocação. É ele quem chama. A resposta só é possível através da ação da graça: "Ninguém pode vir a mim, se o Pai não o atrair". A resposta é algo muito profundo: consiste em encontrar-se com Jesus e acolhê-lo em nossa vida. Isso muda o rumo da vida da pessoa. A acolhida de Jesus em nossa vida implica também viver de acordo com os seus ensinamentos. Jesus é também Mestre. Jesus reúne discípulos não para servi-lo, mas prepará-los para a missão. A finalidade do discipulado é a missão. Por isso a Igreja é uma comunidade de comunhão com Cristo em vista da missão.
A dimensão comunitária e a dimensão missionária são as características principais da Igreja. A partir daí, podemos compreender a importância da Eucaristia. "Para que essa comunhão com ele fosse cada vez mais plena, Jesus Cristo se entregou aos seus discípulos como o pão da vida eterna e os convidou na Eucaristia a participar de sua Páscoa". É na Eucaristia que a Igreja expressa a sua identidade e nela cresce. Como mostra o episódio de Emaús, a missão tem a sua fonte principal no encontro com Cristo vivo presente na Eucaristia. A Eucaristia alimenta a missão: "Eu estarei convosco todos os dias até o final dos tempos." Jesus pronunciou essas palavras, ao enviar os apóstolos em missão. A Eucaristia é também o objetivo da missão levar todos ao encontro com o Cristo vivo para que se tornem seus discípulos e missionários.
Para que nele nossos povos tenham vida. Esse é o título do último capítulo da documento de preparação para V Conferência de Aparecida. Trata da atividade pastoral. É por meio da pastoral que o anúncio da Boa Nova se torna boa realidade para os que procuram um sentido para a vida; para os que têm fome de Deus; para os pobres e todos os que sofrem. O documento de preparação ensina que Igreja, Eucaristia e amor ao próximo são inseparáveis. O amor ao próximo prolonga a diaconia de Cristo. À semelhança dos livros dos Atos que ficou de certo modo inacabado para mostrar que a missão deve continuar, também o documento de preparação está um pouco inacabado.
O último capítulo não está pronto. Ele deve ser escrito com a contribuição de todas as comunidades da América Latina e do Caribe. Trata-se, agora, de elaborar as práticas pastorais e missionárias para todo o Continente. O documento de preparação enumera apenas alguns núcleos para despertar a criatividade.
a) Formação de discípulos e missionários. Existe ainda muito descuido, sobretudo, na formação dos leigos para a missão. Esta é uma das causas de diminuição do número de católicos, do abandono da prática dos sacramentos: batismo, crisma, e matrimônio. Nossas paróquias precisam ser não só comunidades de acolhida, mas também comunidades missionárias, comunidades que vão ao encontro. A vida das paróquias precisa girar não só em torno do eixo sacramental, mas, igualmente, do eixo da Palavra. Formação mais intensa de discípulos e missionários. Está aí um grande desafio.
b) Defesa e promoção da vida. Nunca a vida dos inocentes esteve tão ameaçada como em nossos dias. Muitos se esquecem de uma verdade simples e evidente: como a vida é um dom fundamental e sagrado, cada ser humano deve ser um servidor da vida, da vida sua e de qualquer ser humano. Servidor da vida que está apenas se iniciando e também da vida em desenvolvimento. Servidor da vida que nasce plena e forte, mas também servidor da vida que nasce frágil e com defeito. Servidor da vida em seu início, mas também servidor da vida que está se aproximando de seu fim natural. Servidor e defensor da vida devem ser os agentes do Estado de Direito, pois, a essência da missão do Estado é a defesa e a promoção da vida. A defesa da vida é um valor suprapartidário, no sentido que deve inspirar qualquer política que esteja a serviço da pessoa humana e da sociedade. É um valor também super-religioso. A inviolabilidade da vida humana, desde seu início até o seu fim natural, é uma questão de direito natural.
Os cristãos encontram em sua fé um motivo a mais para defender esse direito. Não se trata, pois, de impor à sociedade ou Estado laico uma convicção religiosa, mas levá-lo a respeitar um direito do ser humano. A Igreja, enquanto instituição da sociedade civil, não só pode, mas tem o dever de assim agir. Grande missão continental. Aqui se encontra uma grande intuição da Quinta Conferência de Aparecida: envolver toda a Igreja numa grande missão continental. Neste sentido, não só estará continuando a tradição das Assembléias precedentes, mas realizando um salto qualitativo, que mudará a face pastoral da Igreja e aprofundará a sua presença na sociedade. Para isso é necessário um empenho de todos a começar desde agora. Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.
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