Realizamos nesta quinta-feira passada a festa de Corpus Christi, com a participação de grande número de fiéis. Essa celebração não é a veneração supersticiosa de um pedacinho de pão, nem uma ocasião para mandar procissões triunfalistas pelas ruas. É um comprometimento pessoal e comunitário com a vida de Cristo, dada por amor até a morte. É o memorial da morte e ressurreição do Cristo, mas não um mausoléu; é um memorial vivo, no qual assimilamos o Senhor, mediante a refeição da comunhão cristã, saboreando um antegosto da glória futura. A festa de Corpus Christi é também a festa do seu Corpo Místico, a Igreja, que Ele nutre e leva à unidade da mútua doação. O Evangelho desta celebração é o final do "sermão do Pão da Vida" segundo o Evangelho de São João. Depois da multiplicação dos pães, Jesus explicou o sentido do sinal que acabou de fazer: significava que Ele mesmo é "o pão que desceu do céu" como um presente de Deus à humanidade. E no fim explicou um sentido mais profundo ainda deste mesmo "sinal", o sentido que celebramos na Eucaristia. Alimentamo-nos de Cristo, não somente escutando a sua Palavra, mas recebendo o dom de sua "carne" (vida humana) e "sangue" (morte violenta) dadas " para a vida do mundo".
Tomando o pão e o vinho da Eucaristia, recebemos Jesus como verdadeiro alimento e bebida. A sua vida, dada para a vida do mundo, até a efusão do seu sangue, torna-se nossa vida para a eternidade. Este dom do Cristo vale muito mais que o maná, com o qual Deus alimentou os antigos judeus no deserto. O pão e o cálice, recebidos na fé, nos fazem participar da vida que Cristo viveu até a morte por amor, e nos unem em comunhão com os irmãos. Celebrar é tornar-se presente. Receber o pão e o vinho da Eucaristia significa assumir em nós mesmos a vida dada por Jesus até morrer para todos nós, em corpo e sangue. Significa "comunhão" com esta vida, viver do mesmo jeito. E significa também comunhão com os irmãos, pelos quais Cristo morreu.
Quando, na oração eucarística, o sacerdote invoca o Espírito Santo e pronúncia sobre o pão e o vinho as palavras de Jesus na Última Ceia, dando-nos seu corpo e sangue, sua vida dada em amor até o fim. Quando nós recebemos o pão e o vinho, entramos em comunhão com a vida, a morte e a glória eterna de Jesus, e também com nossos irmãos, que participam da mesma comunhão. Na Eucaristia, torna-se presente o dom da vida de Cristo para nós. Mas a Eucaristia se torna fecunda apenas pelo dom de nossa vida, na caridade e solidariedade radical. Para que o pão eucarístico realize a plenitude de seu sentido, é preciso resgatar o pão cotidiano da "hipoteca social" que o torna sinal de conflito, exploração, anticomunhão. Quando o pão cotidiano significar espontaneamente comunhão humana, e não suor e exploração, o sentido da comunhão do pão eucarístico será mais real. Antes de falar da Eucaristia, Jesus multiplicou o pão comum.
Dom Moacyr José Vitti CSS, arcebispo metropolitano.
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