O evangelho deste domingo nos apresenta Jesus anunciando com alegria a boa nova aos pobres. "Felizes vós os pobres, porque o Reino de Deus é vosso". Nada demais. Até o presidente do FMI fica comovido quando os pobres são felizes. O problema é que Jesus fala ao contrário para os ricos: "Ai de vós, ricos, porque já tendes a vossa consolação". Os ricos já receberam seu prêmio e agora perdem a sua vez.
O contraste entre ricos e pobres na boca de Jesus nos ajuda a entender melhor o que é esse Reino de Deus que Ele vem anunciar. É o contrário do reino dos homens, o contrário daquilo que os ricos já têm. Eles possuem o que se apropriaram por caminhos humanos, nem sempre muito retos: riqueza, poder, prazer. Coisas passageiras, que, contudo, chegaram a ocupar todo o tempo e imaginação dos que pensam possuí-las, enquanto são por elas possuídos.
Basta qualquer revés, um processo por sonegação, uma comparsa que fale demais... basta algo tão tremendamente comum como a morte, para que percam tudo o que tinha valor para eles. Infelizes... O que Jesus agora anuncia aos pobres é o contrário: vem de Deus, não dos homens. Porque ainda os pobres não se encheram com as suas próprias conquistas, tem valor para eles o "Reino de Deus", o dom de Deus, o "sistema de Deus". Que sistema? Aquilo que Jesus anuncia e pratica: fraternidade, comunhão de vida dos bens materiais e espirituais, partilha de tudo.
É aquilo que Jesus, no evangelho, ensina aos seus discípulos: superar o ódio por amor, aperfeiçoar a "lei" pela solidariedade, repartir os bens, e até sofrer por causa de tudo isso. Pois também para os que sofrem e são perseguidos há uma bem-aventurança. Mas nossa sociedade vai pelo caminho contrário. A propaganda e o consumismo incutem nas pessoas a mania do rico, do eterno insatisfeito. Os pobres se tornam solidários com os ricos, aderem às suas novelas, modas e compras inúteis.
Não é esta a boa notícia do evangelho, e sim, o "ai" proclamado por Jesus. A diferença entre os pobres ricos não é que uns sejam melhores do que os outros, mas que a esperança dos pobres, quando corrompidos, vai para as coisas que vêm de Deus, enquanto os ricos facilmente acham que vão se realizar com aquilo que eles têm em seu poder. Que experimentem... Ou então que participem da esperança dos pobres e se tornem solidários com eles. A esperança do reino supera a vida material.
É a esperança que se baseia no Cristo ressuscitado. "Se temos esperança em Cristo tão-somente para esta vida, somos os mais lamentáveis de todos!" Aquele que se tornou pobre para nós é que nos enriquece com a dádiva do amor infinito do Pai, que Ele revela no dom da própria vida. O reino que Jesus anuncia aos pobres, decerto, começa com a justiça e fraternidade, mas tem um horizonte que nosso olhar nunca alcança.
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