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Ao relembrar a história da Amazônia e ao tomarmos conhecimento dos seus povos e de seus valores, desde a ocupação portuguesa, está se travando um confronto de culturas, de modelos de vida e de projetos de desenvolvimento. Um confronto que veio crescendo a partir da época da borracha e foi se acentuando, sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial e durante a ditadura militar. A partir da década de 1950, a Amazônia passou por grandes mudanças. Visando à "ocupação planejada da Amazônia", o governo elaborou o Plano de Valorização Econômica da Amazônia. Para a realização deste plano, foram criadas inúmeras instituições de apoio: institutos de pesquisa, aeroportos, bancos, redes de comunicação. A implantação da estrada Belém–Brasília também provocou um grande fluxo migratório para a região, induzindo sua dinamização. Surgiram novos grupos urbanos e diversos municípios foram criados pela ação governamental. A política de incentivos e de isenções fiscais do governo federal fez aumentar os investimentos aplicados na região.

Em maio de 1966, foi iniciada a "Operação Amazônia", um amplo e ambicioso projeto de integração da Amazônia ao resto do Brasil, que abriu as portas da região ao capital internacional e nacional. Essa política atraiu grandes empresas nacionais e estrangeiras, incentivou projetos agropecuários, minerais, madeireiros, industriais, e organizou uma política de colonização visando a preencher os espaços vazios das terras amazônicas. Foram projetadas grandes estradas que interligavam cidades distantes e que deveriam facilitar o escoamento da produção. Foram criadas a Sudam e o Banco da Amazônia para gerenciar e ordenar a aplicação dos subsídios e dos financiamentos governamentais. Em nível nacional foram criados outros órgãos para tratar da questão da terra como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Aos poucos, o sistema de transporte e de circulação mudou dos rios para as estradas, provocando o nascimento de novas cidades.

Só o Estado do Amazonas manteve os rios como eixos fundamentais de circulação. Com o objetivo de desenvolver a Amazônia Ocidental, foi criada em 1967, a Zona Franca de Manaus, que atraiu interesses econômicos e financeiros para a Amazônia, através de incentivos fiscais especiais e de uma área livre para o comércio de importação e expansão. Para garantir a efetivação desses projetos, o governo militarizou a região, desdobrando as unidades militares fora da áreas de fronteiras e criando as chamadas áreas de segurança nacional. Aprofundou-se, assim, a contradição o modelo de desenvolvimento defendido pelos governos, por grupos empresariais nacionais e internacionais e pelas elites políticas locais, e a maneira de viver e de pensar a vida, própria das populações tradicionais quase sempre consideradas atrasadas e incapazes de aproveitar as riquezas da região.

Freqüentemente os meios de comunicação insistem e divulgam essa leitura que, ainda hoje, domina na opinião pública nacional. Muitos acabam pensando que essa é a verdade e não raro encontrar amazônidas que pensam assim de si mesmos. Na verdade, o que pode parecer uma preocupação com o desenvolvimento e o progresso da Amazônia, muitas vezes, mascara o interesse pelo lucro ou pelos enormes ganhos que podem ser auferidos explorando os recursos naturais e biodiversidade que a Amazônia possui.

Dom Moacyr José Vitti é arcebispo metropolitano.

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