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O evangelista Lucas com freqüência nos apresenta Jesus sentado à mesa. Entra na casa de todos, aceita convite dos ricos e dos pobres, dos que tem saúde e dos doentes, sem qualquer preocupação com as normas rigorosas de pureza legal estabelecidas pelos guias espirituais do seu povo. Para Ele, todos os homens são puros. Neste Domingo, nós o encontramos na casa de um fariseu, portanto num ambiente moralmente elevado. Lá só se encontram pessoas de ilibada honestidade e de costume angelicais. Lá, sem dúvida, não se ouvirão palavras grosseiras, não haverá conversas de baixo calão. Por que foi convidado? Porque os judeus o consideram um homem justo e um grande mestre e, por isso, desejam conversar com Ele sobre assuntos de elevada teologia. Especialmente aos sábados, na saída da Sinagoga, todos procuram ter entre os seus hóspedes aquele que fez a homilia, para poder, durante a refeição, fazer-lhe perguntas e analisar mais profundamente o tema das leituras.

Os fariseus apreciam muito estas conversas de alto nível e Jesus parece a pessoa mais indicada para esta finalidade. Talvez tenham até a intenção de dar-lhe algum bom conselho. Por exemplo, talvez queiram sugerir-lhe que não é conveniente continuar freqüentando pessoas de fama duvidosa: esperam conseguir convencê-lo a relacionar-se com pessoas de bem, como eles. Estão sentados à mesa e a conversa está no rumo certo quando, de repente, aparece na sala uma mulher de vida fácil. O que vem fazer ela: estragar a festa? Tem nas mãos um pequeno vaso, olha ao redor, procura Jesus entre os comensais e, tendo-o localizado, dirige-se decididamente na direção dele. Não fala uma única palavra. Prostra-se em pranto a seus pés, toma-os nas suas mãos e pouco depois as suas lágrimas banhavam os pés do Mestre e ela os enxugava com os seus cabelos, cobria-os de beijos e ungia-os com perfume que tinha trazido consigo.

Por que se comporta assim? A explicação mais simples aparentemente seria esta: a mulher pecou muito, mas um dia sentiu remorsos e foi pedir perdão a Jesus. Começou a amar muito e com este amor conseguiu compensar o mal praticado. O que está em causa não é: quanto amor é necessário para obter o perdão dos pecados cometidos. Quer dizer: se os pecados forem muitos é necessário antes manifestar muito amor e depois chega o perdão; se forem poucos, não se exige tanto. O problema é outro.

Trata-se de saber quem está mais disposto para amar: aquele a quem foi perdoado muito ou aquele a quem foi perdoado pouco? Há cristãos que, sem problema algum, reconhecem: é verdade, somos todos grandes pecadores! Mas quando alguém, na prática, quer saber deles quais são seus pecados... cuidado! Ficam logo exasperados, pois eles são perfeitos, cumprem todos os mandamentos: os outros é que estão cheios de defeitos! Como conseguirão amar esses fariseus que nunca experimentaram a alegria de ser perdoados?

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