Celebrar a Quaresma é reconhecer a presença de Deus na caminhada, no trabalho, na luta, no sofrimento e na dor da vida do povo. A Quaresma é tempo forte de conversão, de mudança interior, de graça e salvação. Preparamo-nos para viver, de maneira intensa, livre e amorosa, o momento mais importante do ano litúrgico e da história da salvação: a Páscoa. A espiritualidade quaresmal é caracterizada também por atenta e prolongada escuta da Palavra de Deus. Ela ilumina a vida e chama à conversão, infundindo confiança na misericórdia de Deus. No Brasil, a dimensão comunitária da Quaresma é vivenciada e assumida pela Campanha da Fraternidade. A cada ano, a Igreja destaca uma situação da realidade social que precisa ser mudada. A Campanha da Fraternidade ilumina de modo particular os gestos fundamentais deste tempo litúrgico: a oração, o jejum e a esmola. Pelo exercício da oração pessoal e comunitária, as pessoas se tornam sempre mais abertas e disponíveis às iniciativas da ação de Deus. O jejum e a abstinência de carne expressam a íntima relação existente entre os gestos externos da penitência, mudança de vida e conversão interior.

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A esmola confere aos gestos de generosidade humana uma dimensão evangélica profunda que se expressa na solidariedade. Coloca a pessoa e a comunidade face a face com o irmão empobrecido e marginalizado, para ajudá-lo e promovê-lo. Para celebrarmos melhor o tempo litúrgico da Quaresma, valoriza a Campanha da Fraternidade. Neste ano o tema é Fraternidade e Pessoas com Deficiência e o Lema: "Levanta-te, vem para o meio" (Mc 3,3). As pessoas com deficiência incomodam. Diante de uma pessoa com deficiência física ou motora, sensorial ou mental, as pessoas vivem sentimentos contraditórios: desde a repulsa até à compaixão. Tem sido assim ao longo da história. Perante os diferentes, as pessoas com deficiência, os que apresentam um problema de relacionamento social ou comportamental, as sociedades sempre vivem um misto de fascínio e rejeição.

O grau de civilização de um povo pode ser medido pela atenção que dedica aos mais fracos, aos frágeis, às pessoas com deficiência. Mesmo que nascessem "perfeitos", as deficiências e as pessoas com deficiência continuariam uma realidade social. Razões genéticas, enfermidades pré-natais, acidentes na concepção e no parto, não são a única porta de entrada no universo das deficiências. Muitos passaram a ser uma pessoa com alguma deficiência ao longo da existência. Ser pessoa com deficiência, ter um familiar ou amigo nessa condição, não significa receber uma cruz nem uma missão ou castigo. É uma oportunidade para ir a si mesmo, sem ser devorado por ilusões de poder ou saber. Poetas, pintores, escritores, santos, sábios e artistas, durante a Idade Média e o Renascimento, fizeram das pessoas deficientes um modelo estético e ético de suas pinturas, contos e romances, pois sabiam que existem maravilhas a caminho nessa via dolorosa. As pessoas com deficiência e as deficiências ensinam o reconhecimento e a aceitação dos limites como uma via de crescimento. Deficiência não é sinônimo de incapacidade.

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Cada vez mais, as pessoas com deficiência emergem como protagonistas de suas vidas e destinos, deixando de ser meros objetos de ações de assistência individual e social. Elas fundam suas próprias organizações, lutam por seus direitos e questionam a sociedade e o papel marginalizado que muitos lhes atribuem. A luta pela inclusão familiar, escolar, eclesial, social e no mundo do trabalho e da cultura mobiliza hoje as pessoas com deficiência, seus movimentos e organizações, as comunidades eclesiais, e deve transformar a sociedade, marcada por contravalores que ameaçam os princípios de humanidade. A Campanha da Fraternidade é um grande momento de evangelização e seu objetivo é promover atitudes de verdadeira fraternidade e a verdadeira cultura da solidariedade social, coerentes com o ensinamento do Evangelho de Jesus.