A medicina é uma profissão milenar, que sempre teve sua importância nas mais diversas sociedades. Os curandeiros, que foram os primeiros médicos, muitas vezes exerciam simultaneamente a liderança espiritual e política nas tribos. Já na Grécia Antiga, a medicina, assim como a arte militar, a economia e a oratória, apresentava apenas menor apreço do que a ciência política dentro da sociedade. Ainda hoje, a grande maioria das pessoas valoriza o bom profissional, o tratam com respeito e consideração e lembram com carinho daquele que lhe aliviou a dor e lhe cuidou nos momentos difíceis.
Para o Papa João Paulo II, a fé e a razão são comparadas a asas que podem alçar o espírito humano à contemplação da verdade. Dessa forma, o exercício da moderna medicina baseada em evidências científicas não se dissocia de uma visão teológico-filosófica de um crescimento humano autêntico.
A postura do médico católico frente aos novos desafios da biotecnologia e à dramática pressão reducionista, precisa ser ao mesmo tempo crítica e prática. Crítica, mas não a crítica negativa e excessiva, que pretende julgar o ser a partir do pensamento. E sim, a crítica autêntica, que busca purificar o conhecimento, com a finalidade de adequá-lo melhor ao ser. Neste sentido, a Bioética é o seu caminho natural para o diálogo com outras concepções diversas, na busca de soluções conjuntas aos complexos problemas enfrentados pela sociedade. Também é prática, no seu exemplo pessoal e nas suas atitudes na busca de iniciativas que possam fazer prevalecer a medicina do fenômeno humano sobre aquela limitada ao fenômeno saúde-doença.
A medicina, enquanto ciência não o deve afastar de Deus. A convivência diária com a dor e com o sofrimento traz à tona todos os dias a recordação das nossas limitações terrenas. Alguns médicos, pela dificuldade em lidar com isto, procuram se envolver apenas o mínimo necessário com seus pacientes. Não são poucos os profissionais que manifestam a sua angústia pela necessidade de um aprofundamento maior nas questões filosóficas e teológicas essenciais ao exercício desta profissão, que é tão próxima do sacerdócio.
Sabemos que ciência, ética e amor ao próximo não são e nem devem ser atributos exclusivos do médico católico. Mas este deverá desempenhar sua missão de defender estes ideais e auxiliar a todos em retomar a dignidade do homem e a defesa da vida como centro de suas atividades profissionais. Discutir sobre o embrião humano, clonagem, técnicas de reprodução humana, transplantes, fase terminal da vida ou pesquisa em seres humanos, sem o auxílio da Teologia, da Filosofia e da Bioética, se limitando apenas aos aspectos técnicos e científicos, é negar o fato concreto do homem enquanto criatura ser um todo ético, cultural e espiritual, e não apenas físico.
O médico católico deve ser aberto à vida, ao desenvolvimento científico e dar testemunho de vida ética. Assim, como dizia o evangelho de Lucas, médico, cura-te a ti mesmo. Ou seja, exerce a medicina como missão e preenche o teu espírito com o belo, com o bom e com o verdadeiro da arte de curar.
Que Deus os abençoe.
Dom Moacyr José Vitti CSSé arcebispo metropolitano.
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