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Dom Moacyr

Não quem diz, mas quem faz

O Evangelho de hoje começa com uma afirmação muito séria: afirma que muitos julgarão ter vivido em comunhão com Cristo, mas no fim se encontrarão diante de uma trágica surpresa: o Senhor não os reconhecerá como seus seguidores. Como então será possível ter garantias de não errar? Seria triste de mais chegar ao fim da própria vida e ser obrigado a admitir que a gente se enganou.

Há uma prova incontestável: as obras de amor em favor do homem. Quem as cumpre, com certeza, será reconhecido por Cristo como seu seguidor, ainda que o seu nome não se encontre registrado nos livros de Batizados, de Crismas e de Casamentos da comunidade cristã. 

No texto de hoje é feita uma descrição pormenorizada das pessoas que se iludem de ser cristãs: não somente invocam muito bem Jesus chamando-o Senhor, mas falam em seu nome e até realizam fatos extraordinários: expulsam demônios e operam milagres. Nós ficamos muito impressionados diante de fatos milagrosos. Temos a certeza de que eles constituem a prova da santidade de uma pessoa e a comprovação da verdade daquilo que ensina. O Antigo Testamento, porém, já advertia que não se deve fundamentar a fé nos milagres. Jesus hoje também afirma de forma clara que o que vale diante de Deus não são as obras extraordinárias, mas o cumprimento constante e fiel da sua vontade.

Esta parte do Evangelho é um chamado a rever com seriedade a nossa vida pessoal e comunitária. Por acaso não identificamos a fé com a "prática religiosa", com os cumprimentos de exercícios externos de piedade, como a recitação de formulas, cânticos, cerimônia solene, devoções, palavras bonitas? Não há por acaso cristãos que por vezes, procuram esconder a falta de amor aos irmãos por trás destas práticas? Em nossa vida não acontece às vezes  de manifestarmos algum gesto isolado de generosidade, para depois continuarmos como pagãos pelo restante do tempo? Vamos a um exemplo: uma mulher se queixa porque o marido a ofende continuamente, porque a trata com violência, causa-lhes humilhações, quer tudo, sempre quer ser atendido; Ficará satisfeita essa mulher se o marido se limita a dar-lhe, de vez em quando, algum bonito presente? O que é que ela deseja mais ardentemente: um gesto extraordinário de carinho, ou a mudança das atitudes grosseiras do marido, maior atenção, delicadeza maior nas suas relações? Deus também não se satisfaz só com alguma boa ação. Não se adquire a comunhão com Ele com fatos prodigiosos, mas renovando a nossa vida e enriquecendo-a com obras de amor em favor dos irmãos.

Dom Moacyr José Vitti CSS, arcebispo metropolitano.

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