Segundo o Evangelho deste domingo, na multiplicação dos pães Jesus foi reconhecido pelo povo como "o Messias esperado". Caminhando sobre as águas ao encontro dos discípulos e acalmando os ventos, revela-se como Filho de Deus. Aos discípulos em dificuldades, Jesus garante que nunca está alheio aos seus seguidores, mesmo quando as situações são adversas.

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Jesus está presente em sua Igreja de muitas formas: na Eucaristia, na Palavra, na oração comunitária, na prática da caridade. No curso dos séculos, a Igreja atravessou muitas tormentas internas e externas, sem naufragar, porque nela se cumpre à profecia do Mestre: "Eis que Eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo" (Mt 28,20). Contemplando a realidade dos nossos dias, em face dos escândalos, denúncias e sensacionalismo dos meios de comunicação social, chega-se à conclusão de que as "ondas e os ventos estão intensificando sua impetuosidade".

A presença de Cristo no meio de seu povo é real e eficaz por sua palavra e pelos sacramentos, de modo especial, da Eucaristia. Por isso, a cena do Evangelho de hoje fala alto, tanto para as comunidades como, em particular, para a pessoa de cada cristão. É uma lição de fé e de confiança diante das crises, das dúvidas e dos fantasmas do medo. É bem mais cômodo buscar e acercar-se de Jesus quando as coisas andam bem e quando se é aplaudido pelo sucesso desta ou daquela iniciativa pastoral.

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O mar se agita quando se tem que partir e ir ao encontro do diferente, do desconhecido, e ali anunciar a Boa-Nova da partilha, da solidariedade pelo serviço e diálogo. Deixar a terra firme para caminhar sobre as ondas em meio à tormenta não é nada fácil. Felizmente a graça de Deus é mais poderosa que nossas fragilidades. Ele sempre está por perto, presente em sua aparente ausência, amando-nos e assitindo-nos. Muitos cristãos aprendem a lição de crer e confiar no Senhor como Mestre, a exemplo de Pedro, a partir das crises, das tempestades que redimensionam a experiência de fé. Apesar de termos medo, nos sentirmos inseguros diante das provações, elas podem se converter em momentos sérios da graça de Deus que transforma nosso modo de agir e de pensar.

O exemplo de seus discípulos, Jesus nos põe à prova para confirmar nossa fé e nossa confiança, para interiorizar nossa opção pelo Evangelho, pelo Reino de Deus e pelo amor solidário aos irmãos. Nessa perspectiva, é importante a oração silenciosa. Na contemplação silenciosa do agir de Deus, nos sentiremos fortalecidos diante das "noites escuras" da existência e das tormentas da missão. No convívio sereno com o Senhor, o coração do discípulo, clamará: "Atende à minha prece, Javé, considera minha voz suplicante (Sl 85)".

Quando Jesus entrou na barca, o vento parou. As comunidades e as pessoas, para superarem suas resistências e fragilidades, necessitam deixar que o Filho de Deus suba à barca de sua vida e acatar seus apelos. Na multiplicação dos pães, Ele convidou os discípulos a participarem de sua ação ("Vocês é que têm de lhes dar de comer"). Quem é convidado a distribuir o "pão da vida" em meio à impetuosidade dos ventos deve ter a mesma "leveza do ser" do Mestre que andou sobre as águas revoltas do mar.

Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.