Era o tempo no qual reinava em Roma César Augusto, o grande imperador, que tinha ampliado o seu domínio sobre o mundo inteiro, acabando com todas as guerras e estabelecendo a paz em todo o seu reino. O lugar onde nasceu Jesus foi Belém, uma cidade, em verdade um vilarejo de pastores, perdida nas montanhas da Judéia. A referência de Belém, é importante de uma forma muito especial porque os profetas tinham afirmado que o Messias, descendente de Davi, teria nascido na mesma cidade na qual tivera origem o grande rei (Mq 5,1). Deste modo o evangelista Lucas nos apresenta Jesus como o Messias esperado, anunciado pelos profetas, e por Isaías de modo particular.

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Também as palavras colocadas nos lábios do anjo: "Hoje nasceu para vós um Salvador..." destacam essa realeza: trata-se, de fato, da fórmula com a qual era anunciado ao povo romano o nascimento do imperador. Desde o começo, porém, esse rei tem atitudes desconcertantes: não nasce num palácio, mas numa gruta, não dispõe de nenhum daqueles instrumentos que nós homens julgamos indispensáveis para promover a transformação do mundo (o dinheiro, as armas, o domínio, as alianças com os poderosos...). Surpreende também os sinais dados aos pastores para identificá-lo. Não lhes é anunciado, por exemplo, que encontrará um menino envolto numa auréola de luz, com semblante de anjo, com uma coroa na cabeça, cercado por legiões celestes. Nada de tudo isso: o sinal é... Um menino perfeitamente normal, com uma única característica: é pobre e está no meio dos pobres.

Nesse nascimento já transparece em toda sua clareza a lógica de Deus. Os homens têm certeza de que o poder do mal somente pode ser vencido usando as suas mesmas armas: o dinheiro, a mentira, a corrupção; julgam que a violência possa ser vencida somente com uma violência mais forte, que se possa dar fim a uma guerra somente com outra guerra, que um derramamento de sangue só possa ser evitado com outro derramamento de sangue. O evangelho da noite do Natal, revelando-nos um Deus que escolhe a pobreza e a fraqueza, nos ensina a não acreditar na lógica da força, lógica na qual também nós cristãos somos tentados a acreditar. A quem é anunciado esse nascimento? Quem reconhece nesse rei sem poder, sem trono, sem coroa, sem exército, o Messias, o esperado filho de Davi? Os pastores.

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Por que justamente eles. Talvez porque estivessem mais dispostos espiritualmente? Pelo contrário! Os pastores não eram de forma alguma gente simples, bondosa, inocente, honesta, gozando da estima de todos. Eram considerados como os mais impuros entre os homens. Viviam de maneira pouco diferente da dos animais, não tinham autorização para entrar no templo para rezar, não eram aceitos como testemunhas nos tribunais porque eram tidos como ineptos, falsos, desonestos, ladrões, violentos.

Os rabinos afirmavam que os pastores, os publicanos e os cobradores de impostos dificilmente poderiam salvar-se porque tinham praticado tanto mal, tinham roubado tanto, que nem mesmo eles estavam em condições de lembrar a quem tinham prejudicado. Portanto, não podendo restituir, estavam destinados à perdição. Afirma o evangelho desta noite: é justamente para eles e para aqueles que com eles se identificam que o Filho de Deus veio ao mundo... "Para vós nasceu o Salvador" anuncia o anjo. Desde o seu nascimento Jesus foi encontrado entre os últimos da sociedade. São eles – não os justos – os que esperam de Deus uma palavra de amor, de libertação e de esperança.

Feliz e Santo Natal!

Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.