Hoje não se fala do Batismo cristão, mas daquele administrado por João, batismo também recebido por Jesus. Naqueles tempos havia muitas seitas religiosas que praticavam esse rito. As pessoas mergulhavam na água, desapareciam sob a água, e eram em seguidas puxadas para fora. Esta cerimônia significava várias coisas. A mais importante e fundamental era essa: a imersão na água indicava que toda a vida passada devia desaparecer, era como se fosse levada embora pela correnteza. Aquele que saía da água era considerado um homem novo, era como se tivesse nascido naquele instante. João se servia do batismo como rito de aceitação das pessoas no grupo de seus discípulos. Eram batizados os que decidiam mudar de vida e preparar-se para a vinda do Messias.
A primeira condição para recebê-lo era, portanto, aceitar-se como pecadores. Os fariseus e os caduceus não aceitavam o batismo de João porque se consideravam justos, sem pecado (Lc 7,30). Se for este o sentido do batismo de João, não se entende por que Jesus o tenha recebido. Ele não precisava mudar de vida... Além disso, este gesto pode sugerir a idéia de que João fossa superior a Ele. Para esclarecer essa última questão muita acentuada entre os primeiros cristãos, Mateus introduz no episódio o diálogo entre o batista que se recusa batizar alguém superior a ele, e Jesus que,ao contrário, insiste para que se "cumpra o projeto de salvação estabelecido por Deus" (Lc 7,14-15).
Mais importante, porém, é a resposta à primeira das questões: por que Jesus pediu para ser batizado? O seu gesto tem um sentido muito profundo: Ele quis, desde o início da sua vida pública, colocar-se ao lado dos pecadores, se fez um deles, aceitou a condição deles, como escravo, para percorrer junto deles o caminho que conduz à liberdade. "O "batismo de Jesus foi acompanhado por três fatos um tanto singulares:" os céus se abriram, o Espírito Santo desceu sob a forma de pomba, ouviu-se uma voz do céu". É difícil considerá-los somente como dados informativos. Tentemos, por exemplo, imaginar a abertura dos céus...mais abertos do que já estão, não é fácil! Mateus não está narrando uma crônica do que aconteceu certo dia dos anos 27-28 d. C. Ele quer explicar aos seus leitores, quem é Jesus e para isso se serve de três figuras, cujo significado era evidente para os leitores do seu tempo, um pouco menos para nós.
A figura dos céus abertos refere-se a uma profecia que se encontra em Is 63,15-19, onde o profeta pede a Deus que se "abra os céus", isto é, que encerre o seu silêncio e para de se manter longe do seu povo que pecou. A imagem da pomba relembra o que aconteceu no tempo do dilúvio. A pomba com o raminho de oliveira foi o sinal de que a paz havia sido restabelecida. O símbolo da pomba sobre Jesus significa que Deus voltou a falar aos homens. A voz do céu quer dizer que Deus proclamou solenemente que Jesus é o "Servo fiel e Filho predileto no qual se compraz".
Dom Moacyr José Vitti CSS, arcebispo metropolitano.
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