O Evangelho deste domingo narra uma parábola picante de Jesus: um homem que, diante da iminente demissão por causa da má administração, comete umas pequenas fraudes a favor dos devedores de seu patrão, para poder contar com o apoio deles na hora em que for posto na rua. Será um exemplo? Num certo sentido sim: era um homem que enxergava mais longe. Não o devemos imitar na sua injustiça, mas na sua previdência. Ele sabia que sua posição era precária, e tomou previdências. Jesus observa que os "filhos das trevas", com isso qualifica a imoralidade desse homem, são geralmente mais espertos que os filhos da luz.

CARREGANDO :)

Ter consciência da precariedade das riquezas e utilizar as últimas chances para ganhar amigos para o futuro, eis o que Jesus quer ensinar. Entendamos bem. Quando Jesus propõe uma parábola, devemos olhar bem em que consiste a comparação. Jesus não está igualando o suborno do homem ao bom comportamento moral. Não quer justificar a safadeza desse filho das trevas, mas apenas mostrar sua previdência: largou o peixe pequeno para apanhar o grosso.

Diminuiu o débito dos devedores, perdendo inclusive a sua comissão sobre uma parte das dívidas a cobrar, para lograr a amizade dessas pessoas, que ia ser mais útil que a comissão ganha sobre a cobrança da dívida. Então a lição é a seguinte; dar preferência àquilo que agrada a Deus e ao seu projeto, acima do lucro financeiro. E o projeto de Deus: é justiça e amor para com os seus filhos, em primeiro lugar os pobres. A riqueza de nossa sociedade deve ser usada para estarmos bem com os pobres. A riqueza é passageira. Se vivermos em função dela, estaremos algum dia com a calça na mão. Mas se a tivermos investido num projeto de justiça e fraternidade para com os mais pobres, teremos ganho a amizade deles e de Deus, para sempre.

Publicidade

Jesus não nos propõe como exemplo a administração fraudulenta do administrador, mas a previdência dele. Observe-se que Jesus declara o dinheiro injusto, todo e qualquer dinheiro. Pois, de fato, o dinheiro é o suor do operário acumulado nas mãos daqueles que se enriquecem com o trabalho dele. Todo o dinheiro tem cheiro de exploração, de capital não investido em bens para os que trabalham. Mas já que a sociedade por enquanto funciona com este recurso injusto, pelo menos usemo-lo para a única coisa que supera a caducidade de todo esse sistema: o amor e fraternidade para com os outros filhos de Deus, especialmente os mais deserdados e explorados.

Assim correspondemos à nossa vocação de filhos de Deus. Não serviremos ao dinheiro, mas o usaremos para servir o Senhor. O grande amigo que devemos ganhar para o futuro é Deus. Ganhamo-lo através de pequenos amigos: seus filhos. A iminência do juízo nos deve levar à prática da caridade. Entenda-se bem: não fazer caridade para "comprar o céu", mas com os olhos fitos na realidade definitiva que é Deus, Pai de bondade, transformar nossa vida numa atitude que combine com Ele. Sabemos o que é definitivo. Ajamos em conformidade: sejamos misericordiosos como Deus.