Quando ocorrem perturbações políticas, guerras; quando se alastram a fome, as epidemias, as injustiças; quando a situação de miséria se torna insuportável, facilmente se espalham no meio do povo boatos sobre o fim do mundo.
Esses tempos difíceis criam um clima favorável para a atividade "dos visionários": as notícias mais absurdas, os devaneios, as supostas "revelações" se alastram como o fogo nas folhagens secas. As nossas comunidades também ficam agitadas e há sempre algum cristão simplório que acaba se deixando fisgar pelos fanáticos de alguma seita. O evangelista Lucas, no trecho de hoje, escreve mais ou menos cinqüenta anos depois da morte e ressurreição de Jesus, e nesses cinqüenta anos aconteceram fatos terríveis. Houve guerras, revoluções políticas, catástrofes: o templo de Jerusalém foi destruído, os cristãos são vítimas de injustiças e de perseguições. Como explicar esses acontecimentos dramáticos? Todos se lembram das palavras do Mestre: "Haverá grandes terremotos em várias partes, fome, misérias e pestes e aparecerão fenômenos espantosos no céu... e lançarão mãos sobre vós". Tudo foi previsto por Ele, portanto. Alguém começa a interpretar as calamidades que estão acontecendo como sinais de que o fim do mundo está próximo e que o Senhor Jesus está para aparecer entre as nuvens do céu. O Evangelho de hoje quer dar uma resposta a essas falsas expectativas: "É necessário que isto aconteça primeiro, mas não virá logo o fim". O mundo novo já começou, mas a sua manifestação será lenta e penosa. A sua aparição será semelhante a um parto e acontecerá na dor. O fim do reino do pecado (do mundo velho) não deve ser confundido com a destruição da terra na qual vivemos. Ignoramos quando esta destruição acontecerá, como também ignoramos se acontecerá. As verdadeiras preocupações dos cristãos devem ser outras, por exemplo, saber o que se deve fazer hoje, manter-se vigilante para estar pronto a acolher o Senhor, em qualquer hora. Não podemos negar que estamos seriamente confrontados com a possibilidade do fim de uma civilização. As armas de guerra, a poluição, a depredação da natureza, a incontrolabilidade da própria ciência... são bombas relógio que podem explodir a qualquer hora. Contudo, não são razão de desespero. O cristão há de ver em tudo isso um desafio para sua firmeza. Há certas pessoas, de mentalidade muito individualista que dizem: "A sociedade como tal não pode ser salva; o único que podemos fazer e cada qual salvar a sua alma". Tal atitude é irresponsável. Exatamente diante da ameaça do colapso de nossa civilização é que devemos engajar-nos para construir desde já o início de uma nova civilização, mais justa e mais fraterna, mais respeitosa também para com a possibilidade que Deus colocou nas mãos do ser humano. Assim fizeram os primeiros cristãos. Diante dos ameaçadores sinais dos tempos, não cruzaram os braços, mas construíram as suas comunidades que, depois da desintegração do mundo de então, se tornaram semente de uma nova era aqui na terra, além de abrirem as portas para a vida com Deus na eternidade. Todos nós devemos continuar a construção do Reino de Deus encarnado em nossa história, mesmo que existam sinais de que nosso mundo pode estar chegando ao fim. Seja como for, aconteça o que acontecer, Deus quer nos encontrar ocupados com seu Reino neste mundo.
Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.
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