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O evangelho de hoje nos conta um fato dramático, ocorrido ao povo de Israel durante a travessia do deserto. A viagem era muito árdua, faltavam alimentos e água, fazia um calor insuportável e mais, a certo ponto, eis que surge uma nova dificuldade: as serpentes venenosas que picavam e matavam muitas pessoas. Não sabendo mais o que fazer, Moisés dirigiu-se ao Senhor, que lhe ordenou construir uma serpente de bronze e erguê-la num poste.

Os que eram picados não deveriam fazer outra coisa senão olhar para aquela serpente e salvarem a sua vida. O fato é antes de tudo estranho e faz lembrar certas práticas idolátricas da Antiguidade. Os rabinos explicavam que no deserto os israelitas não eram curados porque dirigiam seu olhar para a serpente, mas porque erguiam o próprio coração para Deus.

Era o Senhor que os salvava não o objeto de bronze. Jesus se refere a esse episódio e o interpreta como um símbolo daquilo que está para lhe acontecer. Ele também será levantado na cruz, e todos aqueles que o contemplarem encontrarão a salvação para sua vida.

O que significam essas palavras? Talvez aquele que está envenenando a própria vida com uma avalanche de pecados poderá salvar-se através de um simples olhar para o crucifixo? Não! Não pode ser assim. Nem mesmo a serpente de bronze tinha tais poderes mágicos para salvar desta forma. Olhar para Jesus "levantado" quer dizer "acreditar nele", isto é, aceitar com fé a mensagem que Ele, do alto da cruz, dirige para todos os homens.

Com o seu supremo gesto de amor, Ele declara que a única maneira de realizar a própria vida é a de doá-la pelo amor, como Ele fez. Crer não quer dizer pronunciar com os lábios as fórmulas do Credo, mas identificar a própria vida com a do próprio Cristo, isto é, vivê-la a serviço dos irmãos. Este é o único caminho para conseguir a salvação. O homem se encontra diante da proposta feita do alto da cruz por Jesus. Trata-se da proposta de dar a própria vida por amor, como única forma de valorizá-la.

"Diante "do exemplo de Cristo é preciso definir-se por um "sim" ou por um" não". Se salva aquele que tem a coragem de doar a própria vida como Jesus fez. Aquele que, ao invés, não aceita renunciar a própria vida e escolhe o caminho do egoísmo, que só pensa em si mesmo, nos próprios prazeres, nas próprias satisfações, condena-se à morte, ou seja, destrói sua própria vida. O juízo, portanto, não terá lugar no fim do mundo. É hoje, é agora, é a cada instante que o home se salva por sua adesão a Cristo "erguido" ou se condena pela sua recusa à proposta da cruz.

Mas, no fim, não haverá um julgamento um pouco mais severo, uma prestação de contas mais séria? Deixemos os deuses de outras religiões fazerem esse julgamento! O Pai, do qual nos fala Jesus, a estas horas, já terá conseguido mudar o coração de todos os homens, porque, "Ele amou tanto o mundo que lhe deu o seu próprio Filho unigênito" e não quer que ninguém pereça.

Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.

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