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A Palavra de Deus deste Domingo reflete a realidade histórica da fome de séculos. No Brasil, múltiplas iniciativas visam acabar com a fome. A realidade da fome e da pobreza é gritante. No mundo, há milhões de pessoas que ainda hoje não têm acesso à comida e à bebida. O maior escândalo é a existência de pelo menos 800 milhões de famintos entre os 6 bilhões de habitantes da terra.

Só no Brasil, 36 milhões estão excluídos dos bens essenciais à vida. Nesse, sentido, milhões trabalham de sol a sol para assegurar o pão de cada dia. Em toda a América Latina morrem de fome, a cada ano, milhões de crianças e adolescentes É deveras uma multidão que "sai das cidades a caminho do deserto", na esperança de algum sinal alternativo de vida digna. "A imensa maioria dos católicos de nosso continente vive sob o flagelo da pobreza" (Documento de Aparecida). "Jesus viu grande multidão. Teve compaixão deles".

Como Jesus, somos convidados a "fixar nosso olhar no rosto dos novos excluídos: os migrantes, as vítimas da violência, os deslocados e refugiados, as vítimas do tráfico de pessoas e seqüestros, os desaparecidos, os enfermos de HIV e de enfermidades endêmicas, os tóxico-dependentes, idosos, meninos e meninas que são vítimas da prostituição, pornografia e violência ou do trabalho infantil, mulheres maltratadas, vítimas da violência, da exclusão e do tráfico para a exploração sexual, pessoas com capacidades diferentes, grandes grupos de desempregados, os excluídos pelo analfabetismo tecnológico, as pessoas que vivem nas ruas, grandes cidades, os indígenas e afro-americanos, agricultores sem-terra e os mineiros. A Igreja com sua Ação Social deve dar acolhida e acompanhar essas pessoas excluídas nas respectivas esferas" (Documento de Aparecida, 402).

A fome de tantos milhões de pessoas é sinal de que o projeto de Deus não é respeitado e de que seu Reino ainda não se completou. Apesar de o próprio Jesus lembrar: "Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus" (MT 4,4). Somos responsáveis pela fome no mudo, por aqueles que sofrem sob o peso da falta de bem partilhados. "Vocês que devem dar-lhes de comer". Com nosso trabalho (os discípulos distribuíram à multidão) damos prova da nossa solidariedade.

Como discípulos e missionários, somos chamados a contemplar, no rosto sofredor dos nossos irmãos, o rosto de Cristo que nos chama a servi-lo neles: "O rosto sofredor dos pobres é o rosto sofredor de Cristo" (Documento de Aparecida). O serviço da caridade da Igreja entre os pobres é um campo de atividade que caracteriza de maneira decisiva a vida cristã, o estilo eclesial e a programação pastoral. Portanto, queremos estimular o Evangelho da vida e da solidariedade em nossos planos pastorais, à luz da Doutrina Social da Igreja. "Ainda que imperfeito e provisório, nada do que se possa realizar mediante o esforço solidário de todos e a graça divina em dado momento da história, para fazer mais humana a vida os homens, nada se perderá ou será inútil".

Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.

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