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Dom Moacyr José Vitti

Os primódios da Igreja “eles eram um só coração”

O domingo pascal acentua o dom do Espírito Santo pelo Cristo ressuscitado. O evangelho narra como Jesus, na própria tarde da Páscoa, apareceu aos discípulos no cenáculo, dando-lhes o Espírito Santo; e como no domingo seguinte, Jesus mostrou seu lado aberto a Tomé, testemunha da primeira hora, mas proclamando felizes, doravante, os que acreditarem nele, sem tê-lo visto. O dom do Espírito serve em primeiro lugar para perdoar o pecado: "Recebei o Espírito Santo, a quem perdoardes os pecados serão perdoados, a quem não perdoardes não serão perdoados" (Jo, 20, 19-31). Os discípulos continuam a obra que Jesus iniciou: na primeira apresentação de João Batista, Jesus fora chamado de "o cordeiro que tira o pecado do mundo" (Jo 1,29). A reconciliação com Deus e entre os irmãos é a condição necessária para seja possível a comunidade que Jesus deseja. Na primeira leitura de hoje, vemos como essa comunidade funciona. Continuando a reunir-se, depois da morte e ressurreição de Jesus, e animada por seu Espírito, procurava viver em unidade perfeita: um só coração e uma só alma. Colocavam os seus bens em comum, ninguém considerava seu o que possuía, e assim não havia necessitado. Comunhão dos bens materiais, mas também dos bens intelectuais, afetivos, espirituais. O que chamamos de "fraternidade" era realidade entre eles. Não era uma mera agremiação piedosa. Era uma união de vida. Comunidade cristã é união de vida dos que seguem aquele que deu a vida por nós, Jesus Cristo. Ele nada guardou para si. Nós também não devemos guardar para nós nada dos bens que nos foram dados, tanto materiais como intelectuais, morais, etc. Somos administradores, não proprietários, e isso é uma razão a mais para sermos muito responsáveis naquilo que fazemos: nos pertence. Pertence a Deus e é destinado aos nossos irmãos e irmãs. Assim como Cristo deu a sua própria vida em sinal do amor de Deus, assim também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos. Dar a vida, vivendo ou morrendo... morrendo de uma morte que em Cristo se transforma em vida. Essa vida de comunhão é obra do Espírito de Cristo, que é o próprio Deus que ressuscitou Jesus dentre os mortos. Podemos também dizer que o Espírito de Deus faz ressuscitar em nós a vida que Jesus viveu. Foi isso que experimentaram os primeiros cristãos, e é isso que a Igreja sempre terá de vivenciar . Não o egoísmo de uma instituição fechada sobre si mesma e de cristãos só de nome, mas uma comunhão de irmãos e irmãs, que contagia o mundo. Essa é a nossa fé, que vence o mundo. A vida de Jesus ressuscita em nós. São Paulo diz: "Não sou eu quem vivo, mas Cristo que vive em mim" (GAl 2,20). João escreveu o seu evangelho para que estejamos firmes na fé em Jesus e nessa fé tenhamos a vida. Mas não se trata de uma vida qualquer. Trata-se da vida que Jesus nos mostrou. Por isso, João descreveu os gestos de Jesus, seus sinais, que falavam de Deus. Seja nossa vida, nossa comunidade, tal qual: "Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos: que vos ameis uns aos outros" (Jo 13,35). Pela aparição do ressuscitado no "primeiro dia" da semana, este se transforma para sempre em "dia do Senhor": dia da fé, da alegria, da comunidade, da paz. Os discípulos reconhecem Jesus, o crucificado que vive; recebem seu Espírito e missão salvadora: a paz. Tomé é protótipo da testemunha ocular, que pôde "apalpar" a realidade do ressuscitado. Seu testemunho é legado pelo escrito de São João, para que creiamos sem ter visto.

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